sábado, 2 de julho de 2011

Johnny Guitar (Nicholas Ray,1954) , por Heitor Dutra


"Essa mulher pensa feito homem, age feito homem e perto dela, não sou homem", assim Sam, funcionário do saloon Vienna's, define sua patroa, a determinda Vienna maravilhosamente interpretada por Joan Crawford. É notável desde a primeira aparição de Vienna no filme que ela não é um donzela em apuros, nem uma femme fatale, ela é uma mulher forte, que usa calças no final do século XIX, e é dona de seu próprio bar, onde em breve passará por perto uma ferrovia, o que desperta o interesse da neurótica Emma, vivida por Mercedes McCambridge, e seu bando. Quando seu irmão é assassinado, Emma jura que quem o matou foi Dancin'Kid, um homem que não esconde sua atração por Vienna. Emma quer vê-lo enforcado pelo crime que teoricamente cometeu. No meio dessa confusão chega em seu cavalo o tocador de viola Johnny Guitar, antigo amante de Vienna.

O que de fato se passa é que Emma, está apaixonada por Dancin'Kid, e como ele não corresponde ela prefere vê-lo morto, e como ele dirige seu desejo para Vienna, ela também não é muito fã da dona do bar. No excelente documentário "The Celluloid Closet", é levantado a plausível possibilidade de Emma ser apaixonada por Vienna, e na verdade ter ciúmes de Dancin´Kid, e desejar enforcar Vienna para que o amor que não pode ser dela não seja de mais ninguém. De fato é claramente notada a tentativa de masculinização das personagens femininas, sobre tudo de Vienna, que só usa vestido numa parte do filme. Ambas usam cabelo curto, e vivem cercadas pelos homens e como de costume em Hollywood, os homossexuais morrem no final. Intencional ou não, fica a questão para ser pensada.

Essa característica, da trama rodar em torno das mulheres, e não dos homens, como em praticamente todos os westerns que chama a atenção no filme. Na verdade o filme podia muito bem se chamar Vienna, mas talvez este não seja um nome ideal para um western.

Joan Crawford tem algo único, mesmo com as acusações de maus tratos com a filha, obsessão, retratados no quase trash "Mamãezinha Querida",ela está no meu panteão de estrelas de cinema. Não atua de maneira realista, ela não dá escândalos, fala pausadamente, tem a voz calma. Seu trunfo são as sobrancelhas e a boca. E que olhos ela tem. Não é o primeiro papel de mulher independente e empreendedora que ela faz, ela já tinha interpretado Mildred Pierce, dona de um império de frango frito, na década de quarenta. Independentes ou não, as mulheres destes filmes dificilmente sairão imunes aos homens, carregam suas marcas, pesadas, e talvez, como Vienna, ainda tenham a chance de ter um companheiro outra vez. Mulheres, homens, mesmo independentes, vanguardistas, únicos, precisam de outros homens, ou outras mulheres.

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