segunda-feira, 4 de julho de 2011
Psicose, por Túlio Ricardo de Lima Rodrigues
O gênio Alfred Hitchcock dirigiu em 1960 não só um dos seus mais brilhantes filmes, mas um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos, enaltecido e apreciado até hoje. Psicose é uma grande aula de como fazer um bom filme de suspense, de como apreender a total atenção do expectador e de como unir narrativa, técnica e trilha sonora num conjunto primordial.
Psicose narra a história de Marion Crane (Janet Leigh) que cansada com a vida que leva se sente atraída em roubar o dinheiro que seu patrão pediu para depositar no banco. Ao invés do depósito, Marion resolve ficar com o dinheiro fugindo da cidade onde vive. A partir daí, a protagonista inicia sua fuga de muita tensão, evidenciada quando ela é abordada por um policial e fica claro o nervosismo que ela sente durante tal abordagem. Logo depois, por causa de um mal tempo durante o percurso, Marion resolve descansar no motel Bates, um estabelecimento de estrada sem movimento algum de hóspedes. A loira é atendida pelo enigmático Norman Bates (Anthony Perkins) que rapidamente se mostra interessado por aquela mulher. Na mesma noite os dois lancham juntos, conversam e refletem sobre a vida, Norman fala da sua mãe doente que reprovou o “encontro” dos dois naquela noite, momentos antes. Depois da conversa, Marion resolve ir dormir, porque pretendia acordar cedo no outro dia para continuar a viagem, mas antes de ir para cama, ela vai tomar o banho mais temido de toda a cinematografia mundial.
Durante o banho, a protagonista é atacada a facadas pela mãe de Norman, uma sequência realmente impactante por causa dos close-ups da atriz, pelo rosto da mãe não focado, dando mais tensão à cena e, sobretudo pela espetacular música que acompanha toda a sequência. Tal música assume a função primordial de fazer com que o expectador se sinta aterrorizado com tudo aquilo que está vendo. Ver a cena do banheiro sem a famosa trilha sonora perde toda a composição de suspense que Hitchcock idealizou para tal parte do filme. Essa cena se tornou um clássico do cinema, além de sua trilha até hoje causar um temor incrível em parte do público.
A partir da morte de Marion, o filme perfeitamente faz uma transição de personagem central dentro da história. Agora, Norman Bates além de se desfazer do corpo de Marion, vai ter que se livrar das perguntas do investigador Milton Arbogast (Martin Balsam) que foi contratado para resolver o caso da mulher que sumiu com 40 mil dólares do patrão. Na narrativa agora, se apresenta a irmã de Marion, Lila Crane (Vera Miles) que resolve se unir a Sam Loomis (John Gavin), amante de sua irmã. Os dois se preocupam com o sumiço misterioso de Marion e recebem as informações que o investigador Arbogast consegue no decorrer das investigações, sobretudo quando ele interroga Norman e percebe sua hesitação em responder as perguntas feitas no próprio motel Bates. O investigador também fica sabendo que a mãe de Norman também pode ter conversando com Marion e pede para falar com ela, mas alegando ser uma pessoa doente, Norman impede que o investigador vá até sua casa e converse com a mulher.
A partir daí a trama vai ficando mais tensa, o investigador liga para Lila e Sam dizendo que vai tentar conversar com a mulher e de repente não dá mais notícias. É a mãe de Norman que ataca mais uma vez, numa cena tecnicamente incrível em que o investigador sobe as escadas e a câmera o acompanha em um plano frontal que gera suspense e apreensão à trama. Aliás, os movimentos de câmera de todo o filme são imprescindíveis para gerar tensão no expectador, é a técnica que Hitchcock dominava perfeitamente para fazer com que o filme transbordasse da tela e inundasse a visão do expectador numa atmosfera aterrorizante. Tenho que concordar, Hitchcock é sim o grande ‘Mestre do Suspense’.
Com o investigador morto, é a vez de Lila e Sam tomarem o controle da situação e começarem a investigar toda aquela história. Depois de escutar do xerife da cidade que a mãe de Norman está morta há anos, os dois que esperavam uma resposta da conversa entre o investigador e a tal mulher, resolvem ir até o motel Bates verificar quem é realmente essa mulher misteriosa. São os momentos em que a trama volta a ficar extremamente tensa. Lila entra na casa de Norman a fim de encontrar a mulher e se informar sobre o sumiço da irmã enquanto Sam distrai Norman na recepção do motel.
Lila não encontra nada, até reparar na pequena porta debaixo da escada que dá acesso ao porão da casa. Ela entra no cômodo e a tensão se instala de vez quando ela finalmente encontra a mãe de Norman sentada de costas para ela. Do susto que Lila leva ao virar a mãe de Norman para o desfecho do filme não se passam mais que 10 minutos e Hitchcock finaliza sua trama mostrando Norman como um grande psicopata. Sua mãe estava realmente morta, e ele vestido com suas roupas atacou a facadas Marion e o investigador Arbogast.
Hitchcock, baseado no livro de Robert Bloch, mostra um enredo surpreendente e inovador nesse filme. Retratando um personagem com problemas mentais ele consegue fazer com o seu suspense ganhe um caráter quase que mítico. Psicose é um grande conjunto de ações bem pensadas, desde a iniciativa de filmar o filme em preto e branco, da grande maioria das cenas serem noturnas, convergindo para a atmosfera que um suspense pede e claro, sem esquecer a brilhante trilha sonora que aterroriza até hoje qualquer pessoa no mundo. Enfim, o primor de Hitchcock em seus filmes e em especial em Psicose faz o Mestre se destacar dos demais quando o assunto é a função básica de um bom diretor: apreender a atenção total de qualquer espectador.
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