segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Picolino (Top Hat), por Jéssica Fantini


O Picolino é um dos clássicos da parceria de Fred Astaire com Ginger Rogers. Produzido pela RKO e sob direção de Mark Sandrich, o filme é considerado um dos melhores musicais já realizados e contém passagens memoráveis, como a cena em que os personagens dançam ao som da canção “Cheek to Cheek”, de Irving Berlin. O efeito causado é inexplicável, as cenas com números de dança, figurinos belíssimos e talentosos atores, só permitem definir que o filme merece estar entre os melhores musicais de todos os tempos.

Não é por menos que “O Picolino” está na lista dos 25 maiores musicais do cinema. A abertura do filme já nos dá a ideia do que iremos assistir. Primeiro pelo enquadramento das pernas de Fred Astaire e Ginger Rogers fazendo passos de dança, segundo pela elegância dos trajes e terceiro pela trilha sonora e a música que dá uma sensação excitante. É o típico musical, com a narrativa sem muita elaboração e músicas coreografadas presentes no contexto, mas destaca-se por ter figurinos, danças e atuações sensacionais.

Realizado em 1935, o filme foge da realidade européia de dificuldades econômicas, após a grande depressão. Nesse contexto, se o objetivo era produzir um musical, precisava-se criar o ambiente desejado, e foi assim que fizeram. O cenário é todo fictício e até mesmo a água do rio, recebeu corante para contrastar com o tom claro dos cenários. Dessa forma, a fotografia tem uma aparência pouco natural sendo perceptível a “falsa” Veneza, até mesmo pelos poucos recursos da época, mas acaba sendo interessante por reforçar o toque de fantasia que se adequa ao gênero musical.

As atuações são impagáveis. Fred Astaire é o dançarino Jerry e a moça por quem se apaixona é Dale, interpretada por Ginger Rogers. Os dois contracenam como de costume, com muito talento e uma química que faz a diferença na qualidade do filme. Além disso, oferecem um tom suave e divertido, que já é uma proposta da narrativa, mas é aperfeiçoada pela atuação dos dois. A sintonia entre eles é vista nos diálogos e nas coreografias, mas a melhor passagem para exemplificar o trabalho de Fred e Ginger juntos, é a cena no duo com a música “Isn’t a lovely Day” que, apesar de esteticamente mais simples que as outras, tem uma espontaneidade única e é lindíssima.

A dança no filme já valida sua excelência por ser baseada na peça da Broadway, “The girl Who dared”. No entanto, além disso, as performances são acompanhadas por figurinos refinados como trajes de galã, comum por ser tratar de Fred Astaire, vestidos femininos glamorosos e até mesmo lindos acessórios, como os chapéus. Inclusive na narrativa é feita uma referência as belas roupas, pela personagem de Dale que usa as criações do estilista que vive com ela, Alberto Beddini. O figurino é idealizado por Hermes Pan e com certeza é um dos destaques do filme.

“O Picolino” de fato tem questões nada originais na narrativa e torna-se interessante e surpreendente pela qualidade estética, as coreografias e as músicas que apresenta. Além de cumprir a sua função parece ter algo a mais, o filme vai além por apresentar algo mágico, que envolve o espectador numa atmosfera doce e divertida e no final a única impressão é de encantamento.

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