domingo, 17 de abril de 2011

"Aurora"(Sunrise: A Song of Two Humans), por Mirella Britto


‘Aurora’, de 1927, é o primeiro dos 4 filmes dirigidos por F.W. Murnau nos EUA. Em 1929 recebeu 3 oscars e é considerado, até os dias de hoje, uma das grandes obras primas do cinema. Mas, precisamos nos perguntar: por que após tantos anos, e tantos filmes, Aurora continua a nos encantar?

O filme conta a historia de um casal de camponeses que viviam felizes até a chegada de uma misteriosa mulher ‘da cidade’. Essa mulher é a própria encarnação das possibilidades da vida moderna, seu olhar é cheio de promessas de aventura, levando o jovem marido a um encantamento que é quase uma hipnose. Assim, logo no início, nos deparamos com a tristeza e angústia da mulher traída pelo marido, que além de desprezá-la começa a gastar todos os bens da família com a amante. Como representação desoladora do abandono, temos a imagem da jovem esposa sentada sozinha à mesa, enquanto o marido sai para passar a noite com a amante.

Dividido entre a vida familiar e a paixão, o marido transtornado termina aceitando o plano da amante de matar sua jovem mulher afogada para que pudessem, finalmente, viver juntos as alegrias da grande cidade. A tentativa de matar a jovem esposa e mãe dedicada é um grande ato de maldade em torno da qual o filme se desenvolve. A partir disso, o protagonista, tentado por uma mulher malévola e quase enlouquecido, oscila entre o desejo e o amor, a compaixão e o egoísmo. Contra a mesquinhez humana, tudo o que a pobre mulher pode apresentar são seus olhos marcados pela dor e pelo espanto. Como ela, ninguém consegue acreditar em tanta maldade e até a natureza se revolta em vários momentos.

‘Aurora’ conta a história de um jovem casal, mas, como é avisado no início do filme, ela poderia acontecer em qualquer parte do mundo, com quaisquer dois ‘humanos’. Murnau propõe um conto ‘universal’, sobre dois humanos e que fale a qualquer ser humano. A diversidade de emoções experimentadas ao longo do filme comprovam que o diretor conseguiu realizar seu intento. Somos levados a seguir o protagonista do pecado à redenção e, se sua maldade pode nos deixar para sempre sob suspeita, a confirmação do amor verdadeiro também precisa ocorrer. Essa história revela uma temática tantas vezes desenvolvida pelo cinema depois: a pureza e os valores da comunidade em oposição à cidade e seus personagens hedonistas e perigosos.

Se não fosse por tudo isso, o filme já mereceria ser visto apenas pelo seu valor histórico. Mas, para responder a nossa pergunta acima, podemos dizer que “Aurora” é uma espécie de protótipo ou modelo que o cinema sempre tentou seguir: a experiência de todas as emoções humanas e de muitas intensidades num curto espaço de tempo. Ainda, essa é uma história capaz de falar a todos porque revela que personagens e público se encontram no mesmo desejo: um happy end.

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