segunda-feira, 4 de maio de 2009

"O(s) martírio (s) de Joana D'Arc" por Luiz Marcos de Carvalho


1) Um pouco de História.

Joana D’arc nasceu em Domremy-la-Pucelle, em 6 de janeiro de 1412 e morreu em Rouen(Ruão) em 30 de maio de 1431, portanto aos 19 anos. É conhecida como a donzela de Orleans é a santa padroeira da França e foi uma heroína da guerra dos cem anos entre França e Inglaterra.

Comandando um exército de cerca de 4.000 homens ela consegue a vitória sobre os invasores, que culminou com a libertação de Orleans, que, há muito tempo, estava em poder dos ingleses. Após a libertação de Orleans, os ingleses acharam que os franceses iriam tentar a reconquista de Paris ou da Normandia. Em vez disso, Joana propôs que os franceses deveriam iniciar uma campanha ao longo do rio Loire. Os franceses assim fizeram e em junho Joana e seus comandados venceram uma série de batalhas: Jargeau, Meung-sur-Loire e Beaugency.

Em 1430, aprisionada pelos borguinhões, Joana foi entregue aos ingleses em Compiègne. Foi julgada herética por um tribunal eclesiástico e queimada na fogueira, em Rouen, no ano de 1431.

O impulso, entretanto, estava dado. Os franceses, incentivados pelo martírio de Joana D’arc, bateram os ingleses em Formigny (1450), tendo conquistado a Normandia e grande parte da Gasconha. O fim da guerra é marcado pela batalha de Castillon, em 1453, quando foi capturada a cidade de Bordeaux, último reduto inglês.


2) O filme O Martírio de Joana D’Arc
Título original: La Passion de Joana D’Arc
Ano de produção: 1928
Diretor: Carl Theodor Dreyer
Fotografia: Rudolf Maté ( o mesmo de o Gabinete do Dr. Caligari).
Elenco: Renée Marie Falconneti, Eugène Silvain

O filme, considerado a obra-prima do diretor Carl Theodor Dreyer, mostra os inúmeros sofrimentos pelos quais passou a mártir Joana D’Arc, desde sua prisão até sua terrível execução.

Existem algumas lendas e histórias relacionadas com a produção do filme. Um delas dá conta que todos os negativos do filme foram perdidos e que apenas um rolo em bom estado foi encontrado muito tempo depois.
O filme é ainda silencioso e pode ser dividido em três episódios: prisão, julgamento e a execução.

Duas características são bem marcantes no filme: o uso freqüente dos close-ups e a performance da atriz M. Falconetti. A utilização dos closes é muito apropriada, uma vez que o autor almeja descortinar o íntimo dos personagens, juízes e vítima, revelando suas emoções mais profundas. Como se quisesse chegar o mais próximo possível das consciências ( e até do inconsciente) dos envolvidos. Quanto ao desempenho da atriz principal, jamais havia visto no cinema tanta expressividade como vi em seu rosto, principalmente no olhar. O seu olhar é belo, profundo e eloqüente e me manteve cativo e fascinado durante toda a projeção.

Um crítico afirmou que André Bazin acreditava que o som teria melhorado o filme. Ouso discordar do grande teórico francês do Cahiers du Cinema, pois penso exatamente o contrário: que as palavras diminuiriam a força expressiva de Falconetti. O som poderia deixar o filme mais leve, mas sem dúvida, o tornaria menos impressionante.



3) Observações finais

Para os jovens acostumados apenas ao cinema moderno, com seu ritmo frenético, seu som estéreo, seus efeitos especiais, é compreensível que um filme como o Martírio de Joana D’Arc possa ser enfadonho e desagradável.

Foi o que ocorreu com pelo menos um dos jovens alunos da sala o qual externou seu desagrado em relação ao filme, principalmente à atriz, de modo contundente em sua resenha, por sinal, muito bem redigida, que se constituiu, a meu ver num novo martírio, motivo que me levou a colocar o título no plural.

Peço permissão, todavia, para discordar do colega, pois penso que ele se preocupou apenas com a forma em sua resenha e descuidou muito da veracidade do conteúdo. Caso a intenção fosse apenas elaborar uma peça literária, irreverente, bem apurada na forma e sem compromisso com a verdade histórica, então seu trabalho estaria perfeito.

Mas, como suponho que não é esse o caso, gostaria de tecer alguns comentários a respeito, pois, a meu ver a heroína da França foi mais uma vez condenada injustamente.

Começando pelos fatos históricos, porque a França seria um país perdedor? A guerra dos cem anos terminou com a expulsão dos ingleses do território francês, portanto, nesse caso foram os ingleses os derrotados. Também como vimos, Joana D’Arc comandou diversas batalhas em que derrotou os ingleses. Por que seria ela uma perdedora? Seria, porque ao final morreu executada nas mãos dos seus inimigos? Penso que quem perdeu mais com sua morte foram os próprios executores, e, de certa forma toda a humanidade, pois mostrou muita baixeza e crueldade. Como o ser humano é capaz de tamanha vileza e perversidade como as que cometeu com Joana D’Arc, com Giordano Bruno e com muitos outros que foram queimados vivos nos tempos da inquisição? E ainda por cima, em nome de Deus?

Além de afirmações contrárias à verdade histórica, a resenha do colega contém colocações bizarras, como a de que a mulher francesa é feia e que Catherine Deneuve seria apenas uma exceção. Ora, a beleza, é um atributo muito relativo, muito subjetivo, de modo que não se pode demonstrar, geralmente, qualquer verdade definitiva em relação a ela. Além disso, a beleza e o charme da mulher francesa ( para não falar no seu perfume) são proclamados há muito tempo e por muitos.

Há também, na resenha em tela, uma afirmação que, ainda hoje seria considerada uma blasfêmia, e, que, no tempo em que viveu Joana D’Arc o levaria , certamente, para a fogueira, caso não abjurasse. Sorte sua Gustavo, que vivemos em outros tempos.

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