quinta-feira, 7 de maio de 2009

"O Atalante" por Vitor Lima


Realizado na década de 30, o Atalante consegue ser bastante diferente dos filmes de sua época, principalmente por fugir da história convencional (muitas vezes feitas como “receita de bolo”), como eram os filmes clássicos ou até um pouco mais adiante nos filmes Noir. Isso não quer dizer que o enredo surpreenda e seja completamente envolvente, tem acontecimentos bastante comuns, até, mas é evidente uma nova forma de contar os fatos e entreter o espectador, tornando os filmes de Vigo bem singulares.

Talvez esse fato se realize por ser utilizado, e até “inaugurado”, o realismo poético em seus projetos, seja em outros como “Zero em conduta”, na sua linda e envolvente cena da guerra de travesseiros, ou em várias cenas do próprio “O Atalante”. Este merece bastante destaque porque chega a ser muito contraditório dizer que ele é realista, pois os personagens são bem caricatos, atuações exageradas, teatrais ou circenses, o que normalmente quebraria o sentido de real das cenas, mas, se sentirmos o filme ao invés de racionalizá-lo, o realismo se torna bastante presente no sentido das seqüências serem ligadas ao cotidiano, muito simples, como muitas vezes a vida se parece. Ao fato de ser poético ainda se torna mais complicado dizer, racionalmente, que “O Atalante” o é, porque muitas vezes não é evidente esse sentido nas cenas (em exceção de algumas, como a que Jean se joga no mar e encontra a pessoa amada, sendo uma cena completa tanto para a história, evidenciando o amor dele por Juliette, quanto para os olhos de quem assiste), mas é perceptível uma “aura” diferenciada, que o filme se envolve no real e no subjetivo ao mesmo tempo.

Dessa maneira, justamente para dar esse tom de real/poético, o filme prefere ser minimalista, não exagerando na maquiagem ou no figurino, sendo uma história de amor do cotidiano, contextualizada na lua-de-mel do casal em um navio com interferência de amigos e das brigas casuais, mas, claro, os dois acabam juntos e felizes. O recurso que mais contribui para o filme, podendo ser até considerado narrativo, transcendente da tela, é a fotografia, por ser justamente através dela que o diretor conseguiu tornar possível a união do viés poético e real, envolvente e emocionante, do filme.

Assim, por mais que muitas vezes pareça, ou até seja em algumas partes, comum para a atualidade esse filme de Vigo, se faz necessário pensá-lo mais subjetivamente, pois ele tem muito mais para contar do que parece, principalmente imageticamente. Talvez a partir dele fique ainda mais claro para muitas pessoas o que grandes teóricos defendem ao dizer que é preciso, também, sentir o filme ao invés de somente assisti-lo.

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