domingo, 3 de maio de 2009

"A paixão de Joana D'Arc" por Tássia Sobreira de Melo


"A paixão de Joana d’Arc" é um filme mudo de 1928, porém, retirando-lhe alguns aspectos, não parece ser um filme concebido nesta época. Isto porque diferentemente dos seus contemporâneos, este é quase que composto unicamente por closes-up, o que o torna inovador.

O filme conta a historia da garota francesa chamada Joana d’Arc que fora condenada à morte pela Igreja por blasfêmia. Joana acreditava ter sido enviada por Deus para ajudar a França na guerra contra a Inglaterra. Todo o julgamento promovido pela Igreja até a morte de Joana é representado no filme de uma maneira impressionantemente comovente. Visto que a história é carregada de drama, o recurso técnico do close-up parece ter sido propositalmente escolhido para traduzir o estado emocional vivido por Joana.

Além da técnica peculiar de filmagem, outro elemento merece ser comentado, uma vez que constitui a alma do filme: a interpretação da protagonista. A atriz Renée Falconetti consegue encarnar o espírito de Joana de um modo inacreditável. Ela interpreta o personagem com uma propriedade e profundidade que faz o espectador não conseguir retirar-lhe os olhos e o coração: a falta de trilha sonora é superada pelo pranto que trasborda-lhe a face do início ao final do filme, assim como todo o despero sentido por Joana nos é igualmente transmitido através das expressões de um transe quase extra-humano, quase angelical, muito bem emoldurado por longos e estáticos closes.

O final do filme –a morte de Joana d’Arc na fogueira- adquire um aspecto diverso de todo o anterior uma vez que os close-ups dão lugar a planos abertos. A diferenciação técnica corresponde a uma reviravolta de sentimentos: do tormento vivido no julgamento para o alívio de se entregar a sua certeza. Nestes é possivel ver a multidão que assiste a morte de Joana e a fúria que lhes consome por conta do acontecimento que lhes parece o verdadeiro martírio de uma pessoa santa.

A cena dos pássaros voando no céu no momento em que as chamas tomam conta do corpo e da alma da garota fica carregada de um simbolismo triste visto que anteriormente Joana abriu mão da vida pela fé que possuía em Deus e na crença de que era Sua enviada, entende-se que os pássaros voando representam a liberdade de Joana para morrer sustentando a sua crença. A paixão de Joana d’Arc é um filme triste e belo.

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