quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Jean Vigo" por Rafaella Costa



Jean Vigo nasceu em 26 de abril de 1905, em Paris. Teve uma infância difícil, sempre com saúde debilitada. Seu pai faleceu misteriosamente numa prisão quando Vigo tinha apenas 12 anos e sua mãe o abandonou, deixando-o passar por vários internatos.

Em “Zero de Conduta” (Zero de Conduite, 1932) onde trabalhou com o fotógrafo Boris Kaufman, é clara a influência de sua vida em sua arte. O filme trata das dificuldades enfrentadas pelos garotos de um internato. Na bela cena dos meninos e os travesseiros, vi de alguma forma refletida ali a minha sensação da eternidade da infância. Um momento representando na desaceleração do tempo o lirismo da infância atingindo seu ponto mais alto. Aquela sensação de liberdade inocente que só se tem quando, ainda crianças, não somos atingidos por qualquer dificuldade que não possa ser vencida pela inocência de um olhar ou virtude de um sorriso.

A história de “O Atalante” (L’Atalante ou La Chaland qui Passe, 1934), seu primeiro longa-metragem, me atraiu de primeira por uma particularidade curiosa: um jovem casal recém-casado partindo em um barco para viverem suas vidas juntos pelos canais de Paris. Uma história que se comparada a outras do gênero, se difere logo por seu início, onde normalmente seria o fim de tantas delas. As dificuldades de adaptação a uma nova vida, dribladas com a aceitação e admiração, é um assunto pouco explorado pelos filmes que se detém a mostrar a vida de duas pessoas, as dificuldades pelas quais passa seu relacionamento e por fim o casamento como “o fim” dos problemas. No entanto, Vigo ultrapassa esse pensamento e com realismo somado a sua profunda sensibilidade, é capaz de mostrar em “O Atalante” os sentimentos acima da história e dos próprios personagens, sem desmerecer obviamente nenhuma dessas duas peças importantes do filme. “Acho que O Atalante é subestimado por verem nele um tema menor, um tema “particular” que se opõe ao grande tema “geral” de Zero de Conduta. (...) Qual era o segredo de Jean Vigo? É provável que vivesse mais intensamente que a média das pessoas.” escreveu Truffaut a respeito do filme. Segundo o próprio Truffaut, Jean Vigo consegue unir duas grandes tendências do cinema: o realismo e o esteticismo.

Em seu quarto e último filme, Vigo contou com a participação do memorável Michel Simon como Père Jules, o velho lobo-do-mar, que também atuou brilhantemente como o juiz de “A Paixão de Joana D’Arc” (Dreyer, 1928) e como o criado em “Tire-au-Flanc” (Renoir, 1928), e com a bela Dita Parlo no papel de Juliette.

O cineasta por diversas vezes tinha seus filmes censurados. Ao falecer precocemente aos 29 anos, próximo à estréia de “O Atalante”, não teve tempo de impedir que seu filme fosse cortado pelos produtores.

Apesar de sua curta filmografia, Vigo sempre irá ser admirado por seu trabalho belíssimo e por sua simplicidade carregada de sentimento. Seu realismo poético e seu lirismo são marcas que o fazem ter o merecido reconhecimento como o “Rimbaud do cinema”.

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