domingo, 17 de abril de 2011

"O Encouraçado Potemkin", por Olga Ferraz


INTRODUÇÃO:
Momento histórico & Breve biografia de Sergei Eisenstein


Desde a Revolução de 1917 o governo bolchevique incentivou a realização de filmes que espelhavam: a força, o heroísmo e o moral do povo russo.

No dia 23 de Janeiro de 1898 nascia um futuro grande diretor, que marcaria para sempre o cinema soviético. Sergei Eisenstein estudou arquitetura e engenharia e juntou-se ao exército vermelho, mas teve sua iniciação nas artes por meio do Teatro Proletkult (movimento literário anti-burguês que surge em 1917 feito para o povo e que não mantinha relações com o governo. Duramente criticado pelo Partido Comunista em 1920, teve seu fim em 1923).

Seu primeiro filme foi junto a Dziga Vertov, que o contratou como instrutor. Vertov também foi importante no cinema soviético dos anos 20 e 30, lançando um movimento purista chamado Kino-Glaz, ou, Cinema Olho.

Aos 26 anos Eisenstein realizou A Greve e aos 27 seu famoso O Encouraçado Potemkin. O sucesso deste filme foi tão grande que o estúdio americano MGM chamou Sergei para gravar nos Estados Unidos. Com sucessivas experiências negativas e atritos, as coisas não deram certo e ele então decide regressar à Rússia. Ele imaginava que sua volta seria um "recomeço" da carreira, mas na verdade foi acusado de ter estado no capitalismo, recebendo muitas críticas e pouca receptividade.

Com todos os indícios de que sua carreira havia acabado, ele recebe então o convite para filmar Alexandre Nevski (uma produção anti-germânica). Logo depois, em 1944, foi escalado para ser o diretor de Ivan - O Terrível, que originalmente teria 3 partes, mas ao longo da produção muitos atritos ocorreram entre ele e Stálin, pois Eisenstein defendia a teoria de que a arte independe de política, governos ou partidos. Foram então gravadas duas partes do filme, e antes que a terceira fosse realizada Sergei veio a falecer, aos 50 anos de ataque cardíaco (Fev. de 1948) deixando inacabada sua trilogia.



O ENCOURAÇADO POTEMKIN
Resenha Crítica do filme


Numa Rússia Czarista onde as cidades se desenvolviam e o interior podia-se chamar ainda "feudal", era mais do que esperado que a população se revoltasse e exigisse mudanças. O filme de Eisenstein pontua um fato: A revolta dos marinheiros do maior navio de guerra russo, contra suas péssimas condições de alimentação. Esse é o mote usado pelo diretor para simbolizar como na verdade estava toda a estrutura do país em 1905.

O filme está divido em cinco partes, a primeira chama-se: Homens e Vermes e logo de início são mostradas imagens de ondas fortes quebrando em arrecifes, ou barreiras de corais, esta é uma cena muito significativa pois expressa o sentimento de revolta daquela nação. Ao longo da primeira parte veremos um médico atestando que a carne a ser feita de sopa está em perfeitas condições e que tudo não passa de reclamações vazias dos marinheiros. Eles então se negam a comer a sopa, e roubam os enlatados, reservados aos oficiais. Esse é o estopim da confusão. Os ângulos de câmera usados por Sergei para nos mostrar as sensações dos personagens são inovadores e ousados, nada mais de planos chapados como se fosse uma vista de uma peça de teatral, temos closes-ups, câmeras filmando de baixo para cima e uma montagem incrivelmente rápida e dinâmica. A exemplo disso entre os 13 e 14 minutos do filme podemos ver bem de perto o rosto de um marinheiro revoltado contra uma frase gravada num prato, e ao vê-lo quebrando-o, o diretor nos mostra a cena rapidamente de vários ângulos diferentes.

A segunda parte do filme é: O Drama no Porto do Tendra, onde toda a tripulação é reunida no convés do navio para ouvir Golicov, o Comandante. Ele então pergunta aos seus subordinados quem ali não está de acordo com a comida servida, e manda que a guarda mate todos os revoltosos. Neste momento há um entendimento entre classes e os guardas decidem ficar do lado dos marinheiros e combater os oficiais. Ao fim desta parte o líder dos marinheiros, Vakulintchuk é morto e levado em um pequeno bote ao porto de Odessa. A peculiaridade desse trecho se dá com o pastor, que se "esconde" atrás da cruz, e do nome de Deus por assim dizer, quando percebe que não seria poupado do combate, e finge-se de morto, simbolizando a falta de verdade e ética da religião.

A terceira parte do filme chama-se O Morto Conclama, e nela vemos cenas extraordinárias. Uma enorme procissão segue para velar o corpo do herói Vakulintchuk, e Eisenstein mais uma vez nos embevece com suas estratégias de câmera, como as cenas das escadarias e o mar de gente que por elas passava (exemplo: aos 42:55'), os closes nas pessoas que choravam e se comoviam diante do marinheiro morto (exemplo: aos 40:13'), os discursos feitos por homens e mulheres e a clássica frase: "Um por todos e todos por um!". O fim desta parte se dá mediante uma provocação feita por um burguês que sarcasticamente, percebendo o sofrimento geral, diz "Morte aos Judeus!". Ele é cercado e atacado pelo povo, desaparecendo no meio da multidão. A população decide fazer de fato uma revolução pela melhoria das condições de vida e esse é o gancho para a quarta parte do filme.

No início da quarta parte, A Escadaria de Odessa, vemos a ajuda da população para com os marinheiros: eles doam comida, sorriem para os recém chegados, a música exalta um clima de relativa felicidade, pessoas acenam, crianças participam da recepção e etc... Quando de repente os Cossacos chegam e iniciam um massacre, de homens, mulheres, crianças e idosos. Esta cena marcou a história do cinema mundial, pois além de grandiosa mostra a opressão e requintes da crueldade humana, como por exemplo, atirar numa criança, que depois é pisoteada e matar uma mãe que solta seu carrinho de bebê (este desce desabalado pela escadaria). Como resposta a barbárie sofrida o Couraçado destrói o Teatro de Odessa, e mais uma vez Sergei prova sua sagacidade nos mostrando o sentimento de choque do povo que minutos antes estava tranqüilo e feliz, através de uma metáfora de 3 estátuas de leões, cortando de um para o outro: um que dormia tranqüilo, outro ainda deitado mas já assustado e o terceiro já de pé (56:10').

A quinta e última parte chama-se: Encontro com a Esquadra e nesta cria-se um clímax reforçado pela correria dos marujos, closes nos pistões do navio que estão a todo vapor, músicas nervosas e aceleradas... Os marinheiros do Potemkin então mandam um sinal à Esquadra Czarista para que eles se juntem e tornem-se parte da revolução. A frase agora dita é "Todos contra um e um contra todos!", os canhões são erguidos e quando a batalha está na iminência de começar, as bandeiras de liberdade são içadas e o Couraçado pôde passar pela Esquadra pacificamente, representando a adesão dos outros marujos à causa da revolução.

O que se apreende e se aprende deste filme, é que além de ser um registro histórico de um momento da vida russa, Eisenstein inova com sua montagem veloz, seus planos inesperados e suas muitas mensagens subliminares que defendem a liberdade e a fraternidade, seja na política, na vida, ou mesmo nas artes. Ele definitivamente estava à frente de seu tempo, não se contentava com apenas um plano, simples e chapado, ele ia além, ousando e simbolizando com o que produzia.




REFERÊNCIAS:
Sites e Livros de consulta

http://www.terra.com.br/cinema/favoritos/potemkin.htm - Acessado em: 09 de Abril de 2011

http://www.adorocinema.com/filmes/encouracado-potemkin/ - Acessado em: 09 de Abril de 2011

http://pt.wikipedia/wiki/Serguei_Eisenstein

BERNARDET, Jean-Claude (1980). O que é Cinema. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos ; 9)

MASCARELLO, Fernando (2006). História do Cinema Mundial. Campinas: Papirus

JÚNIOR FERRARO, Denerval (2008). 10 + do cinema. São Paulo: Globo

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