terça-feira, 5 de maio de 2009

"O Falcão Maltês e Noir - os Olhos do Cinema Expressionista nos Estados Unidos" por Tiago Bacelar


O movimento expressionista morreu no final dos anos 20, mas continuou a influenciar o cinema do mundo nas décadas seguintes. Sua influência estética mais marcante foi nos filmes de horror de Hollywood e no movimento noir, além é claro de ter sido fincado nos trabalhos de renomados diretores como John Huston, de O Falcão Maltês, produzido em 1941, inspirado no romance de Dashiell Hammett, com Humphrey Bogart (Sam Spade) e Mary Astor (Brigid O`Shaughnessy).

O cinema noir é derivado primeiramente dos crimes violentos cometidos durante a Era da Depressão Americana. É importante ressaltar que muitas das novelas, romances e histórias de crime da época viraram inspiração por parte dos produtores do cinema noir.

Esse movimento foi marcado por produções em preto e branco, sombrias, e claramente inspiradas no cinema expressionista alemão, devido a fato de grande parte da produção (atores, diretores como Fritz Lang, Billy Wilder e Robert Siodmak, figurinistas, dentre outros) desses filmes ter se mudado para os Estados Unidos, por causa do Nazismo de Adolf Hitler. Eles trouxeram técnicas desenvolvidas por eles na Alemanha, principalmente a dramaticidade e a subjetividade do ponto de vista psicológico. Tanto os heróis como os vilões dos filmes noir, eram cínicos, desiludidos e, freqüentemente, solitários e inseguros, fortemente ligados ao passado e indiferentes quanto ao futuro.

Os personagens dos filmes noir têm uma característica caricatural, aonde encontramos nas histórias, detetives durões, mulheres fatais, policiais corruptos, maridos ciumentos e agentes de seguro. A ação se passa normalmente em Los Angeles, Nova Iorque ou São Francisco e a moral dos filmes noir tende sempre a serem decisões pretas no branco, ambíguas e relativas, melhor que simples. Os personagens possuem um valor moral absoluto, aderindo ao provérbio de que os fins justificam os meios.

A grande maioria desses filmes prima pela presença de múltiplos flashbacks com narração em off, e fotografia dramática em preto e branco com tons escuros e sombrios. Em termos de estilo e técnica, o filme noir caracteristicamente abusa de cenas noturnas, internas e externas, com cenários que sugerem realismo e com uma iluminação que enfatiza as sombras e acentua o clima de fatalidade. O termo francês cinema noir (filme sombrio) foi aplicado pela primeira vez para os filmes de Hollywood pelo crítico Nino Frank em 1946.

Pode parecer incrível, mas muitos atores e diretores americanos na época não sabiam que estavam criando algo diferente. Isso só seria notado décadas depois por historiadores de cinema e críticos americanos. O cinema noir é o resultado de combinações de gêneros e estilos, com origens na pintura e na literatura. De acordo com James Monaco do site American Film Now, “o cinema noir não é um gênero, e sim um estilo visual. Não aceito quando outros críticos colocam o cinema noir como um modo de produção ou um círculo”.

Nos Estados Unidos, os filmes noir pincelaram diversos elementos narrativos das histórias de detetive e de crimes, criadas pelos escritores Dashiell Hammett, Raymond Chandler e James M. Cain, e popularizadas em revistas como a Black Mask. O Grande Sono e Assassine meu Amado de Chandler e O Falcão Maltês de Hammett são notáveis filmes noir. Apesar de não ser considerado um filme noir, Cidadão Kane, produzido em 1941 por Orson Welles, carrega em sua essência, no desenvolvimento, muitos elementos desse estilo, particularmente no visual de algumas seqüências e na complexa estrutura narrativa dirigida pela voz de um narrador.

O cinema noir teve como ícones os atores Robert Mitchum e Humphrey Bogart. Muitos historiadores colocam as décadas de 40 e 50 como o período clássico do cinema noir, sendo o filme Estranho no Terceiro Andar, de 1940, o pioneiro, e A Marca da Maldade, produzido por Orson Welles em 1958, como o último. Muitos diretores se destacaram no cinema noir como: Nicholas Ray, Robert Siodmak, Jules Dassin, Edward Dmytryk, John Farrow, Samuel Fuller, Henry Hathaway, Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman, Phil Karlson, Fritz Lang, Joseph H. Lewis, Billy Wilder, e Robert Wise.

Para Andrew Dickos, autor do livro The Street with no Name: a History of the Classic American Film Noir:

"O cinema noir ainda não recebeu um reconhecimento por parte da comunidade crítica e por isso tem dificuldades de ser classificado de forma definitiva. É complicado referir o cinema noir como um ciclo de filmes que acabou se destruindo por si mesmos. Eu colocaria o noir como um período, onde foram produzidos filmes com histórias situadas no período pós-depressão com cenários essencialmente urbanos."

Os filmes noir tendem a usar sombras dramáticas, contrastes sombrios, iluminação baixa, e película em preto e branco, tipicamente tendo por resultado uma relação de 10:1 da escuridão à luz, melhor que à relação mais típica de 3:1. As sombras dramáticas dão molde à fisionomia do ator ou da atriz, como se eles estivem olhando para fora de uma janela, um visual típico dos filmes noir e que hoje é um clichê usado por diversas produções.

O cinema noir prima também pelo uso de lentes com ângulos largos para aumentar o efeito da cena filmada. Outros dispositivos usados pelo cinema noir para confundir o espectador são o uso de espelhos múltiplos e de tiros que saem através do vidro. O crime, geralmente assassinato, é um elemento da maioria dos filmes noir, cometido freqüentemente pelo ciúme, pela corrupção e pela fraqueza moral. A influência do Cinema Expressionista Alemão ajudou o noir a entrar para história do cinema como um estilo marcante, sombrio e assustador.

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