sábado, 2 de maio de 2009

"Pacto de Sangue" por Germana Glasner


O cinema noir, uma espécie de desdobramento do Expressionismo Alemão nos Estados Unidos (com a migração de alguns dos seus principais diretores para a América), vem como a necessidade de amadurecimento do estilo cinematográfico. Nascido entre a depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial surgiu apenas como estilo visual e foi nomeado escola posteriormente. Trata-se da representação visual das angustias vivenciadas naquele tempo, marcado por uma idéia de narrativa, baseado nos romances policiais, literatura barata.

“Pacto de Sangue” -Billy Wilder, 1944- contém todos os elementos trazidos pelo cinema noir. Quem o assiste fica completamente envolvido numa atmosfera misteriosa, com uma estética que acentua o grande contraste entre claro e escuro, em meio à ambientes noturnos e nebulosos, a atenção do espectador com a trama está garantida.

A Femme Fatale, diva feminina, é apresentada no filme noir de forma mais humana com presença da sensualidade. Mas, apesar de menos idealizada, em “Pacto de Sangue”, a mulher ainda é colocada no comando da situação. Percebe-se isso, logo de cara, pela cena do primeiro encontro entre o agente de seguros Walter Neff e a atraente (e casada) Phyllis Dietrichson que é vista numa posição superior e enaltecedora, em cima da escada. Vale salientar que a peruca, extremamente vulgar, usada pela personagem é um traço explícito de sua personalidade.

Outra característica marcante do noir é o personagem livre de estereótipo, ambíguo, a fronteira entre o bem e o mal é difusa e mal definida, o que aproxima do real. Apesar do crime e do adultério que comete no decorrer da trama, nós não conseguimos ter raiva do protagonista, trazido como um anti-herói, outra inovação desse estilo.

E, apesar de já sabermos desde o início do filme quem foi assassinado, quem era o assassino e qual era o motivo do crime, com a narração em off, feita pelo anti-herói, recorrendo aos flashbacks nós somos “condenados” a seguir o ritmo imposto pelo personagem, que nos revela pouco a pouco detalhes de sua história. Trazendo a tona reviravoltas espetaculares a partir de momentos inesperados, muitos delas atribuídas a Barton Keyes: o amigo de Walter na seguradora que tem um instinto fenomenal para descobrir fraudes, aguçam a curiosidade do espectador sedento pelo desfecho da narrativa.

“Pacto de sangue” é a obra subversiva que define a estética noir legitimando-a fazendo com que seja reconhecida e adorada. Já podemos observar, logo no início do filme, com a frase narrada por Walter: “Eu fiz tudo por dinheiro e por uma mulher. Eu perdi o dinheiro... eu perdi a mulher”. Sintetizando o espírito do filme noir, é um filme que merece ser assistido e degustado.

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