sexta-feira, 3 de abril de 2009

“Nosferatu: uma Sinfonia do Horror” por Paulo de Sá



Dentre vários outros filmes, Nosferatu: uma Sinfonia do Horror, de Friedrich Wilhelm Murnau, faz parte de um movimento artístico cinematográfico nascido na Alemanha na década de 20, o qual recebeu a denominação de expressionismo. Campos artísticos diversos, tal como a pintura e a literatura, aderiram ao movimento, formando o que viria a ser chamado de vanguarda expressionista. São características próprias desse movimento artístico: o pessimismo, a depressão, o gótico, o melodrama, dentre outros fatores; tudo isso herdado da desastrosa derrota vivida pela Alemanha ao término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o que ocasionou uma crise política e econômica nunca vista antes nesse país.


Tido como um verdadeiro clássico do horror e um dos primeiros grandes filmes feitos com esta finalidade, Nosferatu: uma Sinfonia do Horror, realizado no ano de 1922, é baseado na obra literária de Brian Stoker, de 1897, chamada Drácula, e que viria a se transformar em uma grande produção americana, apenas uma década após a realização do filme de F. W. Murnau. O filme narra a história de um corretor de imóveis, chamado Hutter, da cidade de Bremen, na Alemanha, que recebe uma proposta de trabalho irrecusável, a qual seria muito lucrativa para ele e sua querida esposa, Ellen. O trabalho a princípio parecia simples e até mesmo verdadeiramente bom, como se algum presente tivesse sido oferecido à Hutter, o qual apenas iria ter o trabalho de viajar para a costa do Mar Báltico, na Transilvânia, e efetuar a venda do castelo cujo proprietário é conde Orlock, um homem que, segundo toda a cidade na qual o castelo se encontra, é, no mínimo, misterioso e aterrorizador. A área de abrangência do castelo é tida como o lugar do horror, onde ninguém ousa caminhar ou se aventurar, ou seja, tudo que tenha alguma relação com o conde Orlock e sua propriedade é interpretado com muito horror e espanto. Tal fato é explicitamente demonstrado no filme na seqüência em que Hutter, após longa viagem, chega a um aposento um pouco antes da propriedade do conde Orlock, e, ingenuamente, declara que está a caminho do castelo, logo as pessoas que estão presentes no aposento reagem com incrível espanto, demonstrando quão horrorizados ficaram ao ouvir aquela notícia; a seqüência mostra ao espectador, assim como várias outras, que a única pessoa que não entende o perigo que está sofrendo é o próprio Hutter, algo que é muito explorado no filme.


Após a visita de Hutter ao castelo e seu proprietário, o corretor imobiliário descobre a verdadeira personalidade do conde Orlock, descobre que a figura do conde se trata de um vampiro, que dorme em um caixão durante o dia e à noite desperta para se alimentar de sangue humano. O conde Orlock decide, então, comprar uma casa muito perto à casa de Hutter, após ver uma foto de sua esposa, a bela Ellen, pela qual, o vampiro teve um grande interesse: se tratava do seu pescoço, o qual serviria como uma alimentação de altíssima qualidade para o mesmo. Depois de uma série de acontecimentos, após tanto Hutter quanto o conde Orlock chegarem à cidade em que Hutter morava, o maléfico vampiro supremo consegue realizar o seu grande desejo: se alimentar do sangue de Ellen, causando a morte da esposa de Hutter. Porém, logo após sugar o sangue de Ellen, Orlock morre ao se defrontar com a luz do sol, justamente por ser uma criatura das sombras, da escuridão, tendo uma reação fatal e não suportando os raios solares. O bem, assim, mais uma vez vence, mesmo se submetendo a sacrifícios para derrotar o lado maléfico da história.


Não são poucos os recursos usados na produção do filme para transportar o espectador para um cenário com um clima denso, pesado, misterioso, gótico, que está sendo criado no filme, justamente para impor as mais assustadoras e horripilantes reações a quem o assiste. Alguns desses recursos podem ser citados, como: o tom de mistério nas paisagens da Transilvânia, que é tida como “a terra dos fantasmas”; a forma da filmagem; os enquadramentos; o uso da sombra para demonstrar a escuridão em que o personagem se encontra, o uso da claridade para contrastar com o escuro, com o sombrio; a densidade na maquiagem de certos personagens, como o próprio conde Orlock, passando uma impressão de personagens cansados, misteriosos, maléficos, anti-sociais, em contraste com a maquiagem de outros personagens, como, por exemplo, Hutter e Ellen, os quais são interpretados como pessoas serenas, ingênuas, que não possuem o conhecimento do perigo que estão correndo. Há uma grande preocupação em demonstrar aspectos do bem e aspectos do mal. O bem facilmente interpretado pela figura de Hutter, já o mal supremo visto no personagem do conde Orlock, que seria o próprio Nosferatu, e visto ainda em outros, com um grau de intensidade menor, como em Knock, o servo do conde. Não há grandes dificuldades em perceber a exploração de recursos teatrais dentro do filme, como, por exemplo, a incrível força que as expressões dos personagens possuem, muitas vezes, mais importante do que muitas ações efetuadas por alguns personagens. Ou seja, além do recurso da ação teatral, que seria encenações interpretadas de modo que o espectador mais leigo possa compreender o que está acontecendo na cena do filme, há, com incrível intensidade, a exploração da expressão dos personagens, demonstrando sensações, reações, pensamentos, vontades, entre vários outros fatores, de forma clara e nítida, tudo isso influenciado, fortemente, pelo teatro.


Grande parte das características e dos recursos utilizados na realização de Nosferatu: uma Sinfonia do Horror é comum entre os filmes pertencentes ao expressionismo alemão. O recurso da maquiagem, das expressões, das referências teatrais, está presente, por exemplo, no filme O Gabinete do Doutor Caligari, também incluído no movimento expressionista alemão da década de 20.

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