domingo, 17 de abril de 2011
"O Gabinete de Dr. Caligari", por Jéssica Fantini
Se há uma palavra para designar o Gabinete do Dr. Caligari está palavra é inovação. O filme escrito na Alemanha pós- guerra, por Hans Janowitz e Carl Mayer, retrata de forma singular a arte expressionista, sendo considerado o marco do movimento no cinema mundial. Sob direção de Robert Wiene e fotografia de Willy Hameistere, os painéis de pinturas expressionistas, as ruas distorcidas e os personagens macabros, característicos do filme, revolucionaram a estética do cinema alemão e possibilitaram a inserção do país no mercado cinematográfico internacional.
Ernst Fischer, em a Necessidade da Arte (1976) afirma que “toda arte é condicionada pelo seu tempo e representa a humanidade em consonância com as idéias e aspirações, as necessidades e as esperanças de uma situação histórica particular”. Tal conceito de arte, vinculada ao contexto histórico, embasa o expressionismo alemão. Diante da tensão gerada pela primeira guerra, a arte do período exprimia o caos interior vivido pela sociedade e, especificamente no âmbito cinematográfico, essa arte se deu de forma memorável. O cinema alemão foi capaz de aglutinar como poucos o “espírito” do expressionismo, revelando clássicos como o gabinete do Dr. Caligari, abordado nesta resenha, e os filmes posteriores que consagraram o movimento como: A morte cansada (1921); Nosferatu - uma sinfonia de horror (1922); O Gabinete das figuras de cera (1924); etc.
O gabinete do Dr. Caligari tem como palco a cidade fictícia de Holstenwall. Logo no inicio é perceptível os traços “avant-garde” tendo em vista que a história do filme é contada por Francis (Friedrich Feher), transcorrendo-se totalmente no plano surrealista. O homem narra a chegada do Dr. Caligari (Werner Krauss) na cidade e o interesse do doutor em fazer apresentações com o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt) na feira circense de Holstenwall. Até o ponto citado, o bizarro é evidenciado apenas na passagem que mostra a cidade (o panorama de casas tortas no começo da narrativa) e nos trejeitos e maquiagens fortes dos personagens. No entanto, tais elementos mórbidos ganham sentido na trama através das apresentações do Dr. Caligari com Cesare, momento em que o sonâmbulo faz previsões de mortes e, simultaneamente, inicia-se uma série de assassinatos na cidade.
Apesar da polêmica sobre o responsável pela consagração do gabinete do Dr. Caligari, é evidente a parcela de todos na genialidade da obra. O roteiro original, criado em apenas seis semanas, foi estruturado nos moldes românticos da narrativa e intrinsecamente tinha uma abordagem critica aos regimes de dominação social. Mesmo após a modificação na ideologia política contida no roteiro, com o intuito de torná-lo mais comercial (exigência dos produtores Rudolf Meinert e Erich Pommer), a obra continuou com sua essência: o choque entre convenção e modernidade. Intencionalmente ou não, a ambigüidade é verificada durante os 71 minutos de filme, visto que os cortes e ângulos de câmera são tradicionais e, no entanto, o panorama visual que foi filmado representa uma revolução na dimensão artística. Dessa forma, a produção de uma atmosfera sombria e atemporal com traços nitidamente vanguardistas, mantém na obra a função revolucionária presente no roteiro original, não mais direcionada às questões sócio-políticas como no inicio, mas referente à inovação da estética no gênero de horror.
Sabe-se que a consagração do Gabinete do Dr. Caligari como obra prima resulta da junção de enredo e técnicas visuais. Em contrapartida, é inegável que a grande influência do filme para a posteridade é o conjunto de conceitos estéticos (razão do termo “caligarismo” aos filmes com características semelhantes). Tanto os contrastes de luz e sombra nos suspenses de Hitchcock, quanto os cenários excêntricos e personagens mórbidos utilizados nos filmes de Tim Burton, enfatizam os elementos utilizados por Wiene em 1920, fazendo assim referência, e reverência, ao primeiro clássico do cinema expressionista alemão.
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Perfeita reflexão sobre o filme! Me ajudou a entender ainda mais as questões político-sociais da época, e também o expressionismo, na obra.
ResponderExcluirObrigado,
Larry.
esse Doutor é de morte! gênial!!Marcos Punch.
ResponderExcluirEste gênero suspense é um dos meus filmes favoritos. As cenas e caráter hipnotizados escravo me lembram um pouco estrela da série HBO O Hipnotizador, a produção brasileira em que a hipnose é o recurso usado para descubiri miesterios e segredos de alguns pacientes.
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