domingo, 17 de abril de 2011

"Nosferatu", por Ghita Galvão


Nosferatu (1922), um dos maiores filmes de F.W. Murnau, direção de arte de Albin Grau e fotografia de Fritz Arno Wagner, baseado no romance Drácula, de Bram Stocker inscrito em 1897, (foi a primeira adaptação da história para o cinema e é fonte de inspiração para adaptações posteriores como a de Coppola em seu Drácula de Bram Stocker) por conta da mulher do autor, que não liberou os direitos autorais, os personagens mudaram de nome e esta, além do tempo em que foi situada foi a única modificação em relação ao romance base. O filme está inserido na filmografia do Expressionismo Alemão (estilo da década de 1920), sendo inclusive, um dos filmes mais importantes do período, além de comentado e reproduzido até a atualidade.

O filme se inicia mostrando a vida de um jovem casal, Hutter e Ellen, em Wisborg (cidade alemã na época de 1938, onde não tinha sofrido as mudanças da revolução industrial), Hutter é um vendedor imobiliário jovem, ambicioso e cético que trabalha em um escritório, seu patrão (Knock), que por sua imagem estranha gerava desconfiança em toda a cidade, mas, como é dito no filme pagava bem os seus funcionários e para Hutter era o que importava. Sua esposa Ellen é uma moça simples, desprendida do material e que adora a vida, é um casal recém casado e apaixonado.

Ainda no início, Knock pede que Hutter ofereça a um conde romeno uma casa em Wisborg, pois este deseja se mudar para a cidade e sugere que seja a casa em frente a sua, assim sendo Hutter precisa viajar para a Transilvânia para se efetuar as transações, o que ele faz, mas somente com a promessa de muito dinheiro feita pelo seu patrão, pois Hutter pensa em dar o “melhor” para sua mulher, independente do que ela queira. Antes de partir para a terra de “ladrões e fantasmas” sua mulher pressente algo errado, mas cético e capitalista como Hutter é, não lhe da razão.

Em sua viagem à Transilvânia Hutter passa a noite em uma estalagem onde todos acreditam no fantástico e não saem à noite por medo das criaturas mágicas, ficam chocados ao saber do destino de Hutter, que em sua interpretação o levará à morte, aí Murnau se utiliza do recurso da parada da música, onde todos olham para o jovem rapaz, deixando um tom de surpresa e suspense na cena (a música é uma constante no filme, bem escolhida de acordo as ocasiões), é na estalagem também, mais precisamente no quarto em que passa a noite que Hutter encontra um livro chamado “Os Vampiros - Terríveis Fantasmas – Magia e os 7 Sinais da Morte”, o qual o acompanha até o fim da trama e acaba por ajudá-lo.

Continuando sua viagem, Hutter chega a um ponto em que os condutores de carruagens não avançam mais, por medo das criaturas fantásticas, sozinho, ele chega em fim ao castelo do conde Orlock, sem medo se instala e só percebe que o conde é um vampiro, depois que já foi sugado, e com a ajuda do livro, neste momento o conde já está atraído por sua mulher, Ellen, de quem vira uma foto, e decide ir para Wisborg deixando Hutter, que mesmo debilitado também toma o caminho de volta, na intenção de proteger sua mulher.

O conde Orlock pega uma embarcação para chegar à Wisborg onde mata todos os tripulantes durante o percurso, leva sempre seus caixões com terra do lugar onde foi concebido como vampiro para preservar seus poderes, poderes estes que controlavam a natureza e as pessoas. Hutter chega à casa pouco antes do navio do conde atracar na cidade, e quando este chega não é percebido (a não ser pelo servo do conde, e patrão de Hutter que acaba por ficar louco pela apreensão da chegada do seu mestre, Knock e por Ellen que já vinha tendo alucinações e prenúncios da chegada do vampiro), pois acontece de madrugada e a cidade está dormindo, o conde carrega seu caixão até a casa em frente a do jovem casal e lá se instala.

No outro dia, quando se da conta do navio e entram para ver o que aconteceu, percebem que nele não há vida, a não ser pelos ratos trazidos em caixões, colocam então a culpa na peste e assim se alastra uma epidemia na cidade, só Ellen percebe que a causa é, na verdade, o conde Orlock, quando ela lê o livro “Os Vampiros - Terríveis Fantasmas – Magia e os 7 Sinais da Morte”, percebe que é a única que pode salvar-se e salvar a cidade, assim sendo atrai o conde e então o destrói, pois já estava perto de amanhecer o dia, então o galo canta e o sol sai, não dando tempo para o vampiro se esconder.

A figura do conde é assustadora, em nada tem a ver com os vampiros que estamos acostumados a ver no cinema, é uma figura alta, magra, com braços e mãos desproporcionais, orelhas grandes e pontudas e olhos arregalados, é realmente uma criatura fantástica do Expressionismo Alemão.

A cenografia é obscura, tendo sido quase todo o filme gravado não em estúdio mas ao ar livre, o jogo de luzes é interessante o filme é feito em cores amarelas, azuis e vermelhas. Em ambientes internos à noite, o amarelo é a cor principal, na noite externa o azul e no dia externo o vermelho.

As formas dos elementos, principalmente arquitetônicos eram meio tortas, janelas e portas sempre em ângulos estranhos, além de existir sempre uma morbidez perpassando o filme todo. A sombra também é um elemento importante, pois ela torna-se um personagem à parte, como na cena em que o conde Orlock vai até o quarto de Ellen e a sombra deste a domina. E para finalizar o filme não é o mocinho que salva a mocinha e sim a mocinha que salva a si e a cidade da peste, ou seja, do vampiro Nosferatu.

O filme foi posteriormente, muito estudado, pois foi de extrema importância para o movimento em que está inserido e influenciou muitos outros filmes inclusive adaptações do livro de Bram Stocker, como a de Copola, além de adaptações do próprio filme (como o de Herzog, nos anos 70).

Os aspectos explorados a partir do filme são vários, como o progresso/retrocesso, contidos na luz/escuridão e na própria história, principalmente no romance base que foi descaracterizado, intencionalmente, no cinema, o romance se passa em fins do século XIX numa Londres da Revolução Industrial, já o filme se passa em 1838, numa cidade quase medieval da Alemanha, com Hutter representando a burguesia e o conde a aristocracia. A questão da mulher também é levantada e entra na briga entre burguesia e aristocracia, pois é ela que vence a aristocracia, a mulher representa a sensibilidade a vida, a morte a é mais sensível ao sobrenatural. Existe também no filme todo o desejo pelo mórbido e o amor incondicional, representado pelo casal, além do desejo de mantimento e exaltação da tradição alemã, iniciando um forte sentimento de nacionalidade, posteriormente exposto ao mundo.

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