domingo, 17 de abril de 2011

O cinema expressionista alemão e seu legado para a cultura, por Diogo Condé Montenegro





No fim dos anos 10, a grande guerra teve o papel de encerrar a “Belle époque” e com isso fez o mundo cair numa era de imensa desilusão quanto ao homem e suas realizações, tornando os anos seguintes tempos de extrema melancolia e tristeza, era o período do pós-guerra.

Devido ao fato de ter se saído como a principal perdedora da grande guerra, a Alemanha vivia um momento difícil da sua história, com inúmeras crises em diversas áreas, dívidas enormes e alto grau de humilhação perante o cenário mundial, isso fez a população mergulhar num momento de puro desespero. Inspirado por essa descrença e tristeza, surgiu a versão cinematográfica do movimento expressionista alemão, que já estava presente em outros campos como pintura, dança, teatro e música.

Os diretores oriundos desse movimento buscavam usar temas que misturassem o sobrenatural com questões humanas, como traição, romance, loucura, agonia e angústia, tendo como grandes inspirações os contos de Edgar Allan Poe, Herbert George Wells, Julio Verne e os filmes de George Méliès.

Com orçamentos pequenos, precisaram ousar muito com recursos primitivos, e foi isso que os destacou. Os filmes expressionistas abusavam de técnicas de filmagem alternativas para a época, usavam maquiagem excessiva, pouca iluminação e cenários feitos para parecer sujos, tortos, fora da realidade.

Os personagens se vestem e se portam com extrema excentricidade, com figurinos extravagantes. As narrativas estão geralmente ligadas a perturbações psicológicas, com seus protagonistas quase sempre fora da realidade em que vivem, e quase que inevitavelmente mais exagerado e extravagante que os antagonistas.

Filmes como O gabinete do Dr. Caligari, O Golem, Nosferatu, A morte cansada, A última gargalhada consagraram o expressionismo alemão como um dos mais importantes movimentos cinematográficos do mundo por trazer de vez o sobrenatural para as telas de cinema, deixando um legado enorme para todas as artes. Esse movimento praticamente definiu o que chamamos hoje de cinema de horror, sendo também uma referência estética fundamental para o cinema noir. Notamos também a criação de uma identidade de vilões e de personagens soturnos para qualquer tipo de roteiro,seja teatral,cinematográfico,ou nos quadrinhos.


No campo da música, além de exemplos óbvios de uso da imagem, como bandas de heavy metal ou hard rock, temos artistas que utilizam nas harmonias e melodias com um tom expressionista tendo cada um o seu próprio estilo como Tom Waits, Nick Cave, Marilyn Manson, Nine Inch Nails.

Nas artes plásticas, além do próprio movimento expressionista propriamente dito, podemos ver alguns traços do expressionismo também na pintura surrealista, que procura explorar o uso da arte como forma de desafiar a realidade, não simplesmente imitá-la.

Os expressionistas mostraram como se fazer filmes estilizados e cheios de simbolismo sem a necessidade de grandes investimentos,oposto do cinema tradicional da época,e criou uma legião de fãs do obscuro,do soturno,criando uma nova geração de artistas e consumidores que passaram a ver as artes com outros olhos.

Infelizmente, a onda expressionista acabou cedo, com a perseguição feita pelos nazistas, que queria fazer os alemães se sentirem exaltados ao máximo, não queriam demonstrações de tristeza, foi aí que Hollywood ganhou qualidade expressionista na forma de filmes policiais na maioria das vezes, com a migração dos diretores alemães para os Estados Unidos, depois disso, os diretores foram explorar outras áreas do cinema, e o expressionismo se mantêm vivo em seu legado e contribuição às artes.

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