domingo, 17 de abril de 2011

O Gabinete do Dr. Caligari Retrato abstrato da Alemanha pós-guerra, por Rodrigo Vasconcellos



O Gabinete do dr. Caligari é tido como um clássico do Expressionismo Alemão. Devido a toda uma extravagância e quebra de parâmetros desenvolvidos na época. Esse movimento teve início nas primeiras décadas do séc. XX, ainda no Império. No entanto, fez-se forte até então nas artes plásticas e teatro, chegando ao cinema apenas após a guerra. Esse primeiro momento foi marcado pela troca entre vanguardas europeias, culminando na formação de uma estética expressionista.

Em 1917 foi criada a UFA (Universum Film Aktiengesellschaft), grande truste da Europa que centralizou a produção, distribuição e exibição de filmes na Alemanha. Isso porque englobou as três maiores empresas cinematográficas alemãs. Com a Revolução de 1918 a empresa tornou-se de capital privado, não mudando sua essência conservadora e nacionalista, porém, agora dando mais ênfase a interesses comerciais. Mas, dentro desse cenário pós-guerra, a população alemã, em crise, não tinha condições de gerar o retorno pretendido. Sendo assim, a produção volta-se para o mercado externo. Todavia, como qualquer outro produto germânico, os filmes alemães não conseguiam circular internacionalmente devido ao bloqueio à Alemanha. Restringindo-se a poucas exibições em países neutros (referindo-se ao mercado externo). Só em 1921, quando a importação de filmes estrangeiros foi liberada (apenas 15%), os filmes alemães voltam a circular com mais força, reabrindo as portas do cinema alemão para o mundo. O Gabinete do Dr. Caligari é lançado internacionalmente nesse mesmo ano, já com impacto significativo.
Resumidamente, seu enredo consiste na chegada do Dr. Caligari (Werner Krauss) a uma pequena cidade, onde monta um circo e passa a apresentar um espetáculo em que Césare (Conrad Veidt), seu assistente sonâmbulo, adivinha o futuro das pessoas. Após a chegada do espetáculo à cidade assassinatos passam a acontecer. Tudo se complica quando Césare se recusa a matar uma moça, Jane (Lil Dagover). Ele é flagrado com ela e, em seguida, perseguido. Francis (Friedrich Feher), namorado de Jane, vai afundo na investigação do acontecido e descobre que o Dr. Caligari dirige um manicômio e aplica técnicas sonambúlicas experimentais do século XVIII em seus pacientes. Finalmente, chega à conclusão que é o próprio médico o mandante dos crimes, através do domínio de seu assistente sonâmbulo. Por fim, foi criada uma moldura cinematográfica pelo produtor (Erich Pommer) e pelo diretor (Robert Wiene), aonde essas conclusões a que Francis chega não passam de delírios e ele é internado como louco no hospício administrado pelo Dr. Caligari.

Criou-se uma polêmica em cima dessa moldura. Para os roteiristas (Hans Janowitz e Carl Mayer) a colocação de Francis como louco desestruturava a ideia central do roteiro que era exatamente a imposição autoritária e a obediência cega – No contexto alemão: Sendo a manifestação de uma autoridade exacerbada, onde são impostos vários conceitos, e o cego apoio e aceitação da sociedade -.

Esse filme foi importantíssimo na formação da estética expressionista. Isso porque inovou muito em relação à iluminação (jogo de luz e sombra), cenários e fotografias. Característica importante é a de que personagens e objetos, algumas vezes, transformavam-se em símbolos e causavam a impressão de que uma pintura expressionista estava a mover-se, efeito esse chamado de caligarismo.

Os cenários lembram telas expressionistas planas transpostas tridimensionalmente. Caminhos tortuosos e imprevisíveis. A maquiagem, sempre forte e chocante, é fator decisivo para interpretação dos personagens e suas emoções. Vêm acompanhadas de gestos longos e expressivos. Uma iluminação parcial, preponderantemente na frente das cenas, causando a impressão de pouca profundidade. Todos esses fatores, junto com a fotografia, criam um ambiente fantástico, ilusório. Lembram o gótico medieval, que também pode ser associado ao nacionalismo, sendo visto como raiz da arte alemã.
Essa produção definiu uma estrutura narrativa baseada na ambigüidade, com o intuito de dar margem a diferentes interpretações, minando tentativas de explicações definitivas.

Dito isso, ficam aqui explicitadas as peculiaridades sobre esta obra, O Gabinete do Dr. Caligari, e sua importância para o cinema alemão.

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