domingo, 17 de abril de 2011
"O Gabinete de Dr. Caligari", por Jonathan Wolpert
O filme, dirigido pelo Robert Weine, é um dos grandes marcos do expressionismo alemão no cinema. Possui uma atmosfera obscura, que remete ao pesadelo e aos distúrbios psicológicos da humanidade, mostrando uma Alemanha gótica e demoníaca, com seus cenários angulosos e personagens marcantes. Também trata de questões políticas em relação ao nazismo e as noções de autoridade.
Wiene nos mostra uma história que se passa na cidade de Holstenwall, de um misterioso doutor chamado de Caligari (interpretado por Werner Krauss) que monta um grande show na cidade em que seu assistente, o sonâmbulo Cesare (interpretado por Conrad Veidt) advinha o futuro das pessoas, e logo em sua primeira adivinhação prevê a morte de um jovem. Logo, uma série de crimes começam a ocorrer na cidade, trazendo as suspeitas pra o Cesare, que é flagrado seqüestrando a Jane (Lil Dagover), que namora com Francis (Friedrich Feher). Francis descobre que o Dr. Caligari é o mandante dos crimes, pois ele usa a hipnose para comandar o Cesare em seus atos de
violência.
O filme apresenta dois finais. Um do roteiro original, em que o Dr. Caligari é tido como louco, fazendo uma critica as autoridades alemãs. A versão alterada, mostra um Dr. Caligari lúcido e um Francis louco, que cria uma realidade imaginária sobre os acontecimentos narrados no filme. Com isso, podemos entender mais sobre o período entre-guerras extremamente conturbado em que as pessoas viviam na época, e as influencias disso nos filmes do expressionismo alemão, e na vida das pessoas.
Outra forte característica do filme em relação ao período expressionista alemão, é o uso de painéis pintados em pedaços de madeira e panos pelos pintores expressionistas Walter Reimann e Walter Rohrig e pelo cenógrafo Hermann Warm, que até hoje fazem parte do Museu de Cinema Henri Langlois, em Paris. Hoje em dia, podemos ver grande influência dessa obra do expressionismo alemão, em filmes do Tim Burton, e até em fotografias, como é o caso do Tim Walker, grande fotógrafo de moda que possui fortes inspirações de luz, ângulos e temas do expressionismo alemão.
Devemos perceber uma forte manipulação do Estado na comercialização do filme, que só foi possível depois que o final foi modificado para que o Dr. Caligari (que representa a figura do Partido Nazista) que era um grande manipulador do Cesare (que representa a figura da população civil), fosse uma pessoa normal, diretor de um hospício, e que o verdadeiro louco fosse o Francis (que tentava provar que o Caligari era o mandante de tais crimes) fazendo com que o filme não rompesse com os modelos autoritários do governo, tirando totalmente o objetivo principal do filme original, que era fazer uma crítica direta ao Nazismo.
Toda essa alteração, na minha opinião, não alterou a carga cinematográfica do filme, e sim a carga crítica que o filme queria mostrar. Essas alterações fazem o filme ficar ainda mais intrigante, fazendo com que tudo isso se una ao clima de mistério e horror do filme, não afetando a qualidade cinematográfica. Até hoje podemos perceber grande influência do filme em filmes atuais, como “Edward Scissorhands” dirigido pelo Tim Burton (que já foi citado acima como um grande amante do cinema expressionista alemão, por usar referências do mesmo em seus filmes), que possui grandes semelhanças estéticas com “O Gabinete do Dr. Caligari”, comprovando que o filme do Robert Weine possui grande influência no mundo cinematográfico até os dias atuais.
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Nazismo em 1920? Não viaja. Em 1920 a Alemanha era a República de Weimar, social-democrata. O Nazismo só vai subir ao poder nos anos 30.
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