sexta-feira, 24 de junho de 2011
"Ninotchka", por Jéssica Fantini
Em 1939 a MGM lança Ninotchka, de Ernst Lubitsch. Baseado na obra de Melchior Lengyel, o filme apresenta um roteiro peculiar e conta com a atuação inédita de Greta Garbo em uma screwball comedy. Tais fatores resultaram em um clássico que recebeu quatro indicações ao Oscar, dentre elas a de melhor história original e melhor atriz.
Na introdução do filme já é possivel notar a proposta de comédia “politizada” que ele contém. Os três russos que são enviados à paris para negociar jóias, ficam deslumbrados com o mundo ocidental e não controlam seus anseios consumistas. Então para solucionar o problema, o governo soviético envia a agente Nina Yakushova, uma mulher de postura firme, que abomina o capitalismo e a manipulação do sistema sobre as pessoas. No entanto a aversão só perdura até o momento em que se apaixonar por Leon d'Algout (Melvyn Douglas), um burguês que segundo ela é “um produto desafortunado de uma cultura condenada”.
A partir do romance entre os personagens há uma mescla de valores que é notado em cenas como a que Ninotchka usa o chapéu da moda parisiense para encontrar Leon, e ele por sua vez, começa a ler “o capital” de Karl Marx. A mudança pessoal que a torna mais flexível também é vista na amizade que começa com os russos descontrolados aos quais é seu trabalho “regular”, e na passagem da festa, em que usa um vestido luxuoso e bebe champagne pela primeira vez.
Quanto ao roteiro, Billy Wilder aliou o conteúdo de cunho político, aos diálogos humoristicos que ironizam as questões ideológicas. Dessa forma as criticas que estão no subtexto(principalmente ao comunismo) são secundárias e a atenção é direcionada ao fluxo frenético e divertido característico da comédia.
Greta Garbo neste filme deixa a imagem de atriz limitada ao gênero dramático. É bem verdade que sua consolidação no cinema foi por seus personagens melancólicos, como nos clássicos “Rainha Cristina” e Dama das Camélias, mas apesar de lembrada até hoje por tais papeis, ela provou que sua qualidade de atuação não se restringe ao drama. Em Ninotchka, assim como Clark Gable em “aconteceu naquela noite”, Garbo arrisca na faceta humorística e é bem sucedida. A prova do reconhecimento é a indicação ao Oscar, em 1940.
A temática de Ninotchka não é tão comum na screwball comedy. Claro, existem outros filmes do gênero que fazem sátiras políticas, inclusive do próprio Ernst Lubitsch como, por exemplo, “Ser ou não ser”. No entanto, as situações inusitadas das comédias, costumam acontecer em meio a conflitos familiares, como na desequilibrada família Bullock em “My man Godfrey e na excentricidade dos Vanderhof em “Do mundo nada se leva”. No caso de Ninotchka, a questão política apesar de ser assunto constante, é colocada em segundo plano diante do contexto, em que prevalece a intenção de fazer rir. Os personagens, que são verdadeiras sátiras dos sistemas de governo, fortalecem o embate entre comunismo e capitalismo de forma humorística, sem enfatizar a tensão do período pré-guerra.
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