sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Zero de conduite, deboche", por Ícaro Navarro


Ready made
‘’Dada nasceu de uma revolta que era, na época, comum a todos os jovens, uma revolta que exigia uma adesão completa do indivíduo as necessidades da sua natureza, sem nenhuma consideração para com a história, a lógica, a moral comum, a Honra, a Pátria, a Família, a Religião, a Liberdade, a Irmandade e tantas outras noções correspondentes a necessidades humanas, das quais, porém, apenas subsistiam poucas esqueléticas conteúdo inicial. ’’

“Dada é, portanto, antiartístico, antiliterário, antipoético. Seu desejo de destruição tem um alvo preciso, que é, em parte, o mesmo do expressionismo; mas seus meios são muito mais radicais. Contra a beleza eterna, contra a eternidade dos princípios, contra as leis da lógica, contra imobilidade do pensamento, contra a pureza dos conceitos abstratos, contra o universal em geral. É, ao contrário a favor da liberdade desenfreada do indivíduo, da espontaneidade, daquilo que é imediato, atual, aleatório, da crônica contra a temporalidade, daquilo que é espúrio contra aquilo que é puro, da contradição, do não onde os outros dizem sim e do sim onde os outros dizem não, da anarquia contra a ordem, da imperfeição contra a perfeição.”
Tzara

Zero de conduta, deboche

O professor Huguet começa o filme dormindo em sono profundo e termina saudando a revolta dos alunos. Personagem axial onde se encontram características dos dois grupos antagonistas que compõem o filme: a ideologia libertária dos alunos e a posição de professor dentro da hierarquia da escola. Sua metodologia liberal contrasta drasticamente com a postura da escola, mas mesmo assim não escapa da subversão dos alunos como fica demonstrado na cena do passeio pela rua, em que o professor é mostrado como disperso e ingênuo. Huguet fica então situado a esquerda do colégio e a direita dos alunos de tendências revoltosas.

A revolta, que por sinal é adotada por todos os alunos, se consagra não só perante os administradores da escola, mas diante de autoridades políticas e de familiares. Logo todas as esferas de poder, que existem dentro do universo dos alunos, são combatidas. O filme termina antes dos alunos serem capturados ou punidos o que consagra o sentimento de insurreição seguido de vitoria. Este elogio a revolta começa no slow-motion do dormitório em que a milícia juvenil marcha sobre uma chuva de penas.

O filme mostra também certa capacidade de organização dos alunos não somente na organização do protesto, mas, por exemplo, na cena da rua mesmo com total liberdade os alunos voltam à companhia do professor, ou no refeitório em que um sorteio, uma faca é girada sobre a mesa e decide quem deve se servir primeiro. O deboche das autoridades contrasta com essa capacidade dos alunos: a dispersão do professor, a figura do diretor da escola, um anão e o professor pedofilo.

Elogio a ideologia anarquista, o filme é banhado do mesmo ímpeto revolucionário e destruidor do dadaísmo. Ridicularizam a ordem vigente, propondo o caos e a organização que surge deste. Ambos buscam a liberdade total e incondicional, e o fazem por caminhos semelhantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário