sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Impressionismo francês", por Rodrigo Vasconcellos


O movimento surgiu em meio a uma crise cinematográfica ocorrida na Europa pós-guerra. Devido à Primeira Guerra Mundial as companhias de cinema viram-se obrigadas a diminuir suas produções e passaram a importar filmes dos Estados Unidos para suprir as demandas do mercado.

Por conta do sucesso do cinema americano, as produtoras francesas começaram a investir em alguns cineastas e suas ideias experimentais. Faziam-se donas dos direitos de exibição e distribuição e em troca, davam acesso à aparelhos e estúdios. Sendo assim, segundo Fernanda A.C Martins em História do Cinema Mundial, o cinema Impressionista era caracterizado por uma produção “semi-independente”.
Na época, cinema não era considerado como arte e seu público consistia, basicamente, nas classes mais desfavorecidas da sociedade. A camada burguesa dava valor ao teatro óperas, muito populares naquela altura. Foram, os impressionistas, de enorme importância para a consolidação cultural do cinema. Tomaram à frente em projetos que consistiam numa tentativa de “expansão de alcance”. Várias revistas foram criadas, críticas de cinema tornaram-se comuns, isso em busca de atingir a parte da sociedade letrada, ou seja, os burgueses. Nesses textos falava-se das peculiaridades cinematográficas, como o movimento, e incentivava-se o financiamento de filmes franceses. Salas especializadas se multiplicavam por Paris na década de 20. O cinema estava se popularizando.

A estética Impressionista quebrava com o convencional. A chamada “boa-fotografia” foi deixada de lado e, junto com uma montagem rápida e planos curtíssimos, surgia um tipo de cinema muito diferente. O diretor assumia também o papel de roteirista, o que dava uma maior liberdade de criação e de utilização de diversos fatores para construção da trama. Tido como um cinema onde a imagem era supervalorizada, utilizavam-se de vários artifícios técnicos que, naquele momento, não eram nada convencionais: deixavam imagens fora de foco, sobreposição, imagens deformadas. Um pouco mais na frente a montagem acelerada entra nesse leque de peculiaridades, junto com a justaposição de planos curtos. A mise-en-scène também foi inovadora, se tratando de iluminação e cenários modernos. Tudo isso era aplicado na formação subjetiva dos personagens e da trama, essa muitas vezes descontínua, isso no sentido de não seguir uma linha cronológica. Fernanda A.C Martins usa como exemplo uma cena do filme Eldorado (1921), de L’Herbier, em que a protagonista está com as amigas e só ela aparece fora de foco. Querendo demonstrar sua desatenção ao que se passava, pois estava preocupada com o filho.

Sendo assim, vê-se que o Impressionismo Francês foi deveras importante para o cinema moderno, onde foi responsável pela criação de diversos textos teóricos, inclusive, dar-se crédito a impressionistas franceses a criação da teoria cinematográfica (Ricciotto Canudo) e a crítica cinematográfica (Louis Delluc). Foi fundamental para a disseminação do cinema como arte, antes visto como “o irmão pobre do teatro”, restringia-se ao puro entretenimento. Com o impressionismo e seus escritos essa conscientização da sociedade letrada se deu de uma forma mais concisa e o cinema passou a ser visto com outros olhos – desfocados e deformados -.

2 comentários:

  1. Muito interessante. Sempre procurei por exemplos de filmes impressionistas, mas nunca havia encontrado nada. Achei, inclusive, que existisse apenas cinema expressionista. Ótimo post. Obrigado e parabéns.

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