sexta-feira, 24 de junho de 2011

"O noir e a dama de Xangai', por Fernando Batista Vieira


Rita Hayworth, linda de morrer, e de matar, como sempre, até hoje. Orson Welles, chamado por muitos como o melhor dos cineastas de seu tempo, e hoje, por alguns, chamado como o melhor de todos os tempos. Um terreno misterioso e exótico como o próprio clima do gênero da história pede, China. No noir cinematográfico, “A Dama de Xangai” (The Lady From Shanghai-1947) tem os ingredientes certos para atrair e fazer-se memorável neste estilo marco dos anos 40 e 50.

Começando como todo noir que se preze, uma metrópole, que como outro personagem da história se apresenta como determinante nos pensamentos dos protagonistas. Nova Iorque aparece obscura e faz o personagem de Michael (Orson Welles), um vagante pelas ruas da cidade, que ao ver a bela Rosaly, ou Rosalinda (Rita Hayworth), confessa estar perdido por ela antes mesmo de conhecê-la, o que o torna perigoso, pois a confusão de sua mente o deixa a ponto de ser incontrolável. Ele se vê perdido.

Quase como uma confissão ele narra a história, dizendo seu arrependimento pelo acontecido. Se soubesse o que iria acontecer, não faria nada para se aproximar da “femme fatalle”, mas o faz. Coisa típica do noir, mas apesar de tantas vezes aproveitada, não se torna démodé, rotineira, clichê. Esses fatores tornam mais estimulantes o noir que tenta aguçar com o nosso desejo pela execução das tentações, que nossos pudores não permitem concretizá-las. Mas ver já permite certa relação de se sentir realizando-as, então a aventura, o desejo, o belo e sensual, a instigação de se querer descobrir um mistério e encontrar alguém novo e misterioso, alguém exótico, uma história exótica, exatamente como a cidade também se apresenta, prende o espectador ao conto, à luz e/ou sombra.

Dentro dos três primeiros minutos já aparece cena de luta e heroísmo, flerte e galanteio. Rosaly mostra-se vindo de uma descendência distante e de uma terra distante. Filha de russos, vinda de Xangai, já conheceu os piores lugares do mundo conhecidos por um marinheiro como Michael, Chifou e Macau. Ele se vê tão perdido que não teme dizer que esteve preso em outros lugares no mundo, talvez até como uma maneira de dizer que não é fraco, é um lutador e seria até um forte candidato a, biológica e zoologicamente falando, um bom macho parceiro-reprodutor. Mas ele se deixa levar tanto que diz ter matado um homem como motivo de ter sido preso uma vez no passado, expondo-se francamente e abertamente mostra descontentamento ao descobrir que ela é casada até rasgando o cartão que ela lhe entrega. Numa cultura ocidental, isto, mostrar seu sentimentos, é algo muito forte.

Entre tantas obras da época, “A Dama de Xangai”, respeitando o gênero, faz jogadas de luz e sombra, realçando a dicotomia, a luta do bem contra o mal presente em cada mente de um indivíduo humano. A expressão de um conflito interno no protagonista demonstrada na cidade. O romance policial tão adorado na nos tempos da Depressão de 29 atiçando a vontade pelo material. Um julgamento e viradas de enredo fazem desse filme uma escolha para se ter em mãos e aproveitar o resto da vida.

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