quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Aconteceu naquela noite" por Diogo Didier


“Aconteceu Naquela Noite” (It Happened One Night, 1934) conta a história de Ellie Andrews (Claudette Colbert), filha mimada de um banqueiro, que foge do seu pai para se encontrar com o seu “verdadeiro amor”. Nessa fuga, ela termina conhecendo um jornalista, Peter Warne (Clark Gable). Esse encontro cheio de humor muda, completamente, a vida dos protagonistas.

O filme dirigido por Frank Capra, cineasta que fez história no cinema hollywoodiano, foi o primeiro a conseguir os cinco prêmios mais importantes do Oscar – melhor filme, diretor, roteiro adaptado, ator, atriz. É, também, o grande sucesso do gênero que serviu de influência para as atuais comédias românticas, o Screwball Comedy.

A narrativa começa com Ellie viajando no barco do seu pai. Ela está fazendo uma greve de fome, pois o pai não quer que ela se case com o homem que ela ama, um piloto famoso. O primeiro diálogo que ela trava com o pai é repleto de insultos de ambas as partes, algo bem aceitável atualmente, mas, para aquela época, é estranho, e engraçado, ver a filha chamando a família do pai de idiota. Os insultos, aliás, compõem boa parte dos diálogos no filme.

Ellie se joga do barco e vai em direção a rodoviária, enquanto seu pai destaca um grupo de pessoas para procurá-la. Na cena seguinte, ela compra o bilhete do ônibus para Nova York e o outro protagonista é apresentado. Peter Warne, o jornalista, está bêbado e falando ao telefone com o seu ex-chefe. Pela conversa, entende-se que ele acabou de ser demitido. Ele entre no ônibus para Nova York e, depois de uma série de situações inusitadas se senta ao lado de Ellie. Começa aí uma briga de gato e rato, pois ela está determinada a seguir sua viagem sem perturbação, e ele se satisfaz em vê-la irritada. Há um certo interesse da parte dele, mas nada muito intenso, ainda. A relação deles segue com Peter tentando ajudá-la, mas Ellie sempre recusando. Ela tenta acreditar que consegue fazer tudo sozinha, mas percebe que não é possível. Isso fica evidente em uma cena que o casal está no meio do mato e Peter a deixa só por alguns instantes.

Em certo momento, Peter descobre que tem um furo jornalístico que, certamente, vai empregá-lo de novo. Ele vê que Ellie é a filha que fugiu do pai milionário. Assim, ele diz que está ajudando-a por puro interesse profissional.

As melhores cenas do filme se passam a partir do momento que eles fingem que são um casal de verdade. Já é claro que eles se amam, mas não podem ficar juntos, pois são de mundos diferentes e ela está comprometida. Desse modo, além de um lençol, a “Muralha de Jericó” – comparação usada por Peter –, criando uma barreira entre as suas camas nos quartos em que dormem para dar privacidade a cada um, há todas essas questões morais.

Há, ainda, meia dúzia de complicações e, perto do final, a história parece não querer (ou não saber como) acabar, pois os personagens não param para conversar e esclarecer situações, aparentemente, simples. A narrativa, assim, termina perdendo a sua veia cômica que dá espaço às cenas melodramáticas. A impressão que fica é que a duração do filme extrapola o seu tempo real – 105 minutos.

Por isso, esse filme ainda carrega um pouco do grande problema das Scewball Comedies – bem menos do que outros filmes do gênero como “Levada da Breca” (Bringing Up Baby, 1938): as situações se prolongam demais e fórmulas são repetidas dentro de uma mesma cena. Há, ainda, cenas que são desnecessárias para a narrativa como um todo e atrapalham o seu desenvolvimento porque, simplesmente, fogem da história e não acrescentam nenhum ponto importante. Esse seria o caso do momento em que estão todos no ônibus cantando.

Apesar de o roteiro escorregar no final, a fórmula de humor bem elaborada do início
e a excelente atuação de todo o elenco principal fazem com que quem assista a esse filme, mesmo que não goste do gênero, tenha bons momentos de risada garantidos. Algumas cenas são realmente impagáveis como a que Peter está na estrada tentando mostrar a Ellie como conseguir uma carona. Além disso, o uso do som compõe, também, os pontos positivos do filme. A ambiência sonora é bem elaborada e esse som ambiente é bem mixado aos diálogos. Vale lembrar que o som sincronizado só estava no mercado cinematográfico há 7 anos. A falta de música extra-diegética pode causar estranhamento aos mais atentos, mas não faz falta nessa obra. Há, ao invés disso, canções que os personagens cantam em momentos de grande felicidade o que é interessante, pois as canções só vão aparecer com predominância no cinema duas décadas depois (houve exceções, principalmente, nos musicais).

3 comentários:

  1. é muita coragem assistir a uma screwball comedy depois de ter visto 'a levada da breca'(haja tortura!), mas tenho a impressão que ese deve ser melhor! gostei do texto, diogo! :)

    ResponderExcluir
  2. ai, yanna, que ranzinzice!
    tenta ver "irene, a teimosa"(My man godfrey) e/ou "garota de sorte" (easy living) pra ver que delicinhas...

    ResponderExcluir