sexta-feira, 3 de abril de 2009

"Viagem à lua" por Alan Tonello


Inaugurando o conceito de efeitos especiais no cinema, temos “Viagem à Lua” (Le Voyage dans la Lune, França, 1902), uma das obras-primas do francês Georges Méliès (1861 — 1938), que, além de ser cineasta, era também ilusionista, não poupando a criatividade na hora de inserir esse talento no filme.

Temos em “Viagem à Lua” a história de um grupo de cientistas e astrônomos que, antes mesmo da grande empreitada estadunidense de mandar um homem à Lua, já pensavam nessa possibilidade. Após passar um bom tempo deliberando a proposta do presidente do comitê dos astrônomos, os cientistas aceitam a ideia de embarcar nessa aventura de explorar um mundo desconhecido, que seria cheio de surpresas e momentos inusitados.

Agraciando-nos com os cenários desenhados pelo próprio Méliès — assim como os figurinos — cheios de perspectiva e dignos de grandes espetáculos, acompanhamos o festejado embarque e lançamento dos cientistas em uma nave, em direção à Lua; esta que se tornou símbolo desse cinema criativo e espetacular da época de Méliès.

Ao chegarem à Lua, os astrônomos se deparam com esta paisagem totalmente diferente do que já haviam visto e também com a oportunidade de observar o nosso planeta de outro ponto de vista, momento em que Méliès abusa das técnicas de iluminação, ficando clara a importância daquele momento para os viajantes.

Méliès foi um dos primeiros cineastas a usar técnicas diferentes para obter efeitos especiais inovadores para a época. No decorrer do filme, ele nos mostra sua capacidade criativa ao conseguir passar a ideia do ilusionismo com seus efeitos notáveis como sobreposição, fusão, a exposição múltipla de imagens; como a aparição de estrelas com rosto de mulheres, que observam os cientistas com curiosidade ou a imagem de Saturno, cometas e estrelas cadentes sobrevoando os novos visitantes. Numa cena muito interessante, os cientistas estão explorando uma caverna muito curiosa que é repleta de cogumelos gigantescos — cenário que me fez lembrar o expressionismo alemão, que futuramente teria obras exemplares como “O Gabinete do Doutor Caligari” (Das Kabinett von Dr. Caligari, Alemanha, 1919), de Robert Wiene, e atualmente é explorado por diretores como Henry Selick (de O Estranho Mundo de Jack e Coraline e o Mundo Secreto) ou Tim Burton (de Edward Mãos-de-Tesoura e A Noiva Cadáver) — quando, de repente, são atacados por habitantes hostis da Lua. Em defesa, atingem estes estranhos seres com seus guarda-chuvas, os transformando em fumaça, como num passo de mágica.

Após serem capturados pelos selenitas, supostos habitantes da Lua, derrotam o rei daquele verdadeiro exército e iniciam uma fuga desesperada em meio a uma total desordem. Conseguindo retornar à nave, voltam à Terra com uma forcinha de um dos astrônomos, que a puxa por uma corda. A nave cai no oceano, mas logo é resgatada por um navio que os leva para o porto da cidade, onde uma multidão os aguardava ansiosamente.

Hoje estamos habituados a assistir diversos filmes de ficção científica e não achá-los muito inovadores. Méliès foi genial exatamente por ter ousado e ter feito o primeiro filme deste gênero, que na época nunca havia sido explorado e, além disso, conseguir acrescentar à obra a fantasia, aventura, magia, e tentar desvendar para o público os segredos do que o Universo poderia (ou pode) nos reservar.

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