O encouraçado Potemkin era a advertência ao czar de que até as Forças Armadas podiam abandoná-lo. Pois aquele fazia parte da esquadra russa do Mar Negro e rebelou-se contra a aristocracia czarista, reivindicando reformas políticas.
Em 1925, o cineasta russo, Serguei Eisenstein filmou sobre esse levante. Sua proposta inicial era fazer um filme intitulado “O ano de 1905”, que abrangeria todo o ensaio revolucionário, mas acabou se detendo apenas no episódio do encouraçado Potemkin.
A serviço de um ideal revolucionário, com uma nova percepção cinematográfica empregada, o filme foi lançado em 1926 e começou a ser exportado no mesmo ano, abrindo as portas do engajado cinema soviético para o mundo.
Eisenstein radicaliza a concepção de montagem criando uma visão multifacetada do fenômeno. Exemplo: a cena da morte do marinheiro, onde, a naturalidade é “desnaturalizada”, por ser tão decupada, tão adiada, chegando a parecer multiplicada ou uma sucessão de várias mortes.
Outra inovação trazida pelo filme é a ausência de um personagem principal, não havendo preocupações particulares. Na cena da “escadaria de Odessa” os rostos dos soldados não são mostrados, deles vemos apenas as botas, os fuzis e as silhuetas. Já os rostos dos cidadãos massacrados são mostrados em primeiro plano, grande parte do efeito dramático do filme está na expressão transfigurada desses.
Na mesma cena a multidão foge dos cossacos sem organização alguma, enquanto que, estes são dispostos de forma perfeitamente geométrica numa marcha rígida e exata. Este jogo de formas, mostra o conflito básico do filme entre a desordem libertária das massas e a ordem inflexível do poder.
Há, também, um conflito de direções que tanto inverte o sentido dos barcos de uma tomada para outra como joga com direções contrarias num mesmo plano: se a multidão que passa por cima da ponte caminha para o oeste a multidão que passa por debaixo caminha para leste.
Além de outro conflito, o de cores e tonalidades, presente tanto nas roupas dos personagens quanto no cenário do filme. Em meio a tantos conflitos abordados esteticamente, gerando reflexões psicológicas, o filme reafirma o que Eisenstein dizia: “Eu não sou realista; sou materialista, acredito que a matéria provoca em nós sensações”.
“O encouraçado Pontemkin” trata-se de um filme atemporal, apesar de utilizado como propaganda num determinado momento político continua, mais de oito décadas após seu lançamento, emocionando e provocando reflexões em quem o assiste.
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