No começo do século XIX o cinema já estava se difundindo como meio de entretenimento. Um dos pioneiros na arte do “make believe” no cinema e que ajudou a nova forma de expressão a se popularizar foi o cineasta e ilusionista francês George Meliés.
Dentre os vários filmes produzidos por sua companhia cinematográfica, a Pathé (que dominou a indústria cinematográfica mundial até quase meados da década de 10), destaca-se um filme que é considerado um marco dos primeiros anos do cinema mudo: “Viagem à Lua”. Nesta que seria uma das primeiras ficções científicas da história do cinema, o mágico-cineasta procurou um tema onde a sociedade que se modernizava tecnologicamente e que estava hávida por novas descobertas pudesse se identificar.
A idéia escolhida para a construção de “Viagem à Lua” foi baseado na obra literária futurista clássica de Julio Vernes “Da Terra à Lua”. Meliés descreve de forma lúdica, ingênua e surreal (embora o surrealismo como movimento artístico só influenciaria o cinema apenas a partir do final da década de 20) os preparativos, a partida e a volta para casa do território lunar de um foguete tripulado.
Viagem à Lua é um filme essencialmente teatral pois a câmera estática apenas registra as situações que ocorrem no palco a sua frente sem praticamente nenhuma mobilidade ou mudança de enquadramento. Embora possua uma narrativa limitada devido a escassez de técnica num período em que o cinema arriscava seus primeiros passos, Viagem á Lua detém não só um valor histórico mas um charme sedutor, resultado deste momento primário da cinematografia.
Poderíamos tentar resgatar o lirismo e a poesia das cenas no filme como o antropoformismo da lua bonachona sorrindo de forma caricatural e dos seres lunares que viram fumaça quando são atingidos pelo guarda-chuva, a comemoração eufórica com a partida da nave ou o figurino confuso e excessivo das personagens que extrapolam o senso da realidade e adentram no campo dos sonhos e da imaginação fértil. A história, contudo, não apresenta uma profundidade maior do que aquela que se percebe nas imagens cujo objetivo maior é divertir os expectadores. Para haver maior aproximação do público ao contexto fantasioso da fábula George Meliés fez uso de elementos improváveis como na cena em que várias mulheres desfilam e acenam para a câmera na ocasião em que preparam o lançamento da nave.
Meliés literalmente brincava com a película cinematográfica mostrando domínio que lhe era permitido e, assim, foi criando seqüências espetaculares com efeitos especiais simples, mas efetivos levando-se em conta que o cinema ainda engatinhava e tentava se estabelecer como uma nova forma de arte.
Sendo assim o grande destaque de “Viagem à Lua” é o conjunto de experimentos elaborados pelo cineasta a fim de manipular o expectador enxertando ilusão nas imagens para dar a realidade pretendida às cenas. Inúmeras dessas fórmulas inovadoras são utilizadas em sua narrativa como a dupla exposição de imagens e trucagens e até mesmo a colorização artificial quadro-a-quadro. Muitos desses efeitos e suas variantes são utilizados fartamente no cinema contemporâneo.
George Meliés foi o maior artesão do cinema mundial levando-se em consideração o conjunto de seus trabalhos e “Viagem à Lua” sua maior realização. A longevidade e o reconhecimento de seu legado se mantêm até hoje.
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