sábado, 18 de abril de 2009

"ALGUNS TRACOS EXPRESSIONISTAS EM “METROPOLIS” DE FRITZ LANG" por Camila Nascimento Martins


O expressionismo foi uma corrente de arte moderna nascida na pintura dos anos 20 que influenciou o cinema alemão e as outras artes de uma maneira geral. O movimento ressaltava as experiências emocionais do artista sob formas vigorosas, exacerbadas. Seriam impulsos criativos brotando de um nível primitivo da vida emocional - características que conferiram ao movimento uma tendência atemporal.


Apesar da dificuldade em delimitar a cinematografia expressionista visto que não se tratava de uma definição baseada em padrões estéticos rígidos, mas sim de uma nomenclatura concernente a manifestação artística mais popular da época, Doutor Caligari (1920), de Robert Weine, inaugura e é o ponto alto dessa expressão no cinema com seus cenários sinuosos, trabalho de luz claro/escuro e sua morbidez temática.


A ampla aprovação do movimento pela sociedade, no entanto, terminou por esvaziar seu potencial revolucionário dando espaço a uma outra escola conhecida como Nova Subjetividade e principalmente a um estilo cultural conhecido como a Revolução Conservadora que se opunha ao individualismo típico da democracia moderna e se interessava por questões tecnológicas fazendo um elogio a cultura nacional alemã.


Neste contexto encontra-se “Metrópolis” filme de Fritz Lang (1927). A mega produção foi realizada após o declínio do expressionismo, mas contem ainda alguns traços subterrâneos do movimento. Trata-se de uma narrativa realista onde, numa cidade futurista dominada por maquinas e comandadas pelo poder totalitário de seu chefe, os trabalhadores organizados em torno de uma líder de discurso messiânico esperam uma espécie de salvador que promoveria a sua revolução. O filho do chefe da cidade, espécie de príncipe, alheio `as condições sociais dos habitantes “periféricos” (para o filme seria mais apropriado chamá-los de profundos já que Lang verticaliza essa perspectiva social), vai aos subterrâneos da Metropolis – centro funcional da cidade onde coexistem trabalhadores autômatos que se confundem com as maquinas num ritmo desumano experiência que o abala profundamente. Num cemitério do futuro, mas de atmosfera gótica e sombria, muito abaixo da superfície, o inocente príncipe depara-se com a princesa pregando para uma massa de trabalhadores sedentos de esperança... Ele apaixona-se por ela e pela causa de seus irmãos.


O chefe decide que o inventor Rothwang deve mimetizar as feições desta jovem num robô em que o inventor estava trabalhando para relembrar sua falecida amada, mãe inclusive do príncipe porque o chefe de estado havia roubado a sua mulher. Intencionava boicotar o movimento dos trabalhadores naturalmente. Rothwang, personagem cuja caracterização e atuação trazem traços estilísticos do expressionismo é fundamental na manutenção da cidade enquanto engenheiro, mesmo que parecendo um inimigo, do poder supremo. A atuação e a caracterização da sua criação, o robô/clone Maria, seguem a mesma linha mais expressionista também. A casa de Rothwang é outro elemento que se diferencia no cenário futurista da obra, com ares de magia e ocultismo. Para Kracauer “uma das principais características de muitos filmes alemãs pos-Caligari foi justamente a presença desses personagens destituídos de bondade e isolados em egotrips de poder”. É o caso de Rothwang. Ele vai tentar se vingar de todo mundo através de sua obra tecnológica.


Uma das características mais fortes do expressionismo é a diluição do individuo em face do grupo representada em Metropolis pelos marchas das massas trabalhadoras.
Em seu A Tela Demoníaca - Influências de Max Reinhardt e do Expressionismo, Lotte Eisner irá referir-se as seqüências envolvendo a multidão de operários:

“Para descrever as massas dos habitantes da cidade subterrânea em Metropolis, Lang utilizou com felicidade a estilização expressionista: seres privados de personalidade, com ombros arqueados, acostumados a baixar a cabeça, submissos antes de lutar, escravos vestidos com roupas sem época. Notemos a estilização extrema durante a troca de turnos e o encontro de duas colunas que andam num passo ritmicamente marcado. Ou ainda o bloco de operários amontoados nos elevadores, sempre de cabeça baixa, sem existência pessoal. (...) E eis que as massas se desdobram num escalonamento que segue as regras dos coros expressionistas: evoluem em várias divisões, retangulares ou romboidais, cuja absoluta nitidez de contorno nunca será perturbada por um movimento individual”.

Lang sempre teve uma postura critica em relação ao expressionismo. Sempre manteve uma atitude de relativa autonomia em relação aos modismos. Metropolis não deve ser encarado como filme pertencente ao movimento já que não há a predominância da subjetividade, trata-se de uma narrativa realista embora de ficção cientifica, sem a emanação de consciência que promovia as “visões” abstratas dos artistas desta tendência. Seus referencias pictóricas para o filme encontram-se na Nova Subjetividade e no Futurismo. Os traços estilísticos expressionistas na obra têm, portanto, um propósito distinto aos do chamado Movimento Expressionista.

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