sábado, 18 de abril de 2009

“O Gabinete do Dr. Caligari: o reflexo do horror alemão.” Por Cleiton Costa


A arte sempre foi uma das grandes formas da expressão humana. E uma das formas mais criativas. Diante de uma modernidade cada vez mais prática e insensível, ela resistiu, adaptando-se, modernizando-se. Entre os diversos sentimentos por ela expressados, o medo e o horror humano são alguns dos mais impactantes. E o expressionismo alemão utilizou bem a força desse impacto, inicialmente na pintura, arquitetura e literatura no início do século 20, e mais tarde no cinema; estreando com o inevitável clássico: O gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920, Alemanha). Divulgado dois anos depois de perder a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha chocaria novamente o mundo, agora com esse filme.


“Os espíritos nos cercam por todos os lados. Eles me afastaram do meu coração, lar, de minha esposa e filhos.”


Esse é o primeiro diálogo do filme, dito para um dos protagonistas principais por um homem que representa a loucura viva de todo um trauma alemão. Introduzindo-nos ao mundo fantástico e sombrio do filme.


O enredo do filme é bem conhecido: o misterioso doutor Caligari (Werner Krauss) chega à pequena cidade de Holstenwall com um espetáculo em que seu assistente, o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt), adivinha o futuro das pessoas. Logo depois da chegada da dupla sinistra, uma série de crimes praticados na cidade fazem com que as suspeitas se voltem para o sonâmbulo, flagrado seqüestrando uma moça, Jane (Lil Dagover), pretendente do jovem Francis (Friedrich Feher). Obcecado pelo assunto, Francis descobre que o mandante dos crimes é o próprio doutor Caligari, que controla os atos de Cesare por hipnose.


O roteiro foi escrito pelos jovens alemães Hans Janowitz e Carl Mayer pretendendo ser uma crítica ao absurdo e a violência de qualquer autoridade social, mas o diretor Robert Wiene acrescentou a historia a internação do personagem Francis no manicômio dirigido pelo próprio Dr. Caligari, dando o final ambíguo de que tudo não passava de uma alucinação do personagem.


Opiniões a parte, a trama não foi a peça chave do filme. E sim seu cenário obscuro. Toda uma arquitetura peculiar foi construída para dar o ar de pesadelo da historia. Portas, janelas e até casas inteiras foram deformadas. Também como forma de representar o desenho do horror humano no ambiente. Fundindo outras artes ao cinema, Caligari propôs uma revolução estética na arte cinematográfica.


Enfim, O gabinete do Dr. Caligari foi indiscutivelmente um marco na historia do cinema. Fez o mundo voltar os olhos para a Europa –tirando um pouco a atenção dada ao racista Griffith e aos seus compatriotas hollywoodianos- e possibilitou os intelectuais verem o cinema como expressão artística. Aprofundou na psicologia humana e penetrou em mundos não antes tão bem explorados da consciência. E influenciou toda uma geração futura a ele. Na verdade, o expressionismo cinematográfico alemão, que teve como vanguarda Caligari, não definhou ao longo da década de 30. Dele nasceu os filmes noir e os típicos filmes de terror e suspense (que infelizmente diluíram seu estilo, salvos alguns grandes diretores). E influenciou alguns diretores contemporâneos, como Tim Burton.Na verdade, o expressionismo alemão ainda está bem vivo. E Caligari e Cesare, vanguardistas do horror moderno, continuam à solta.

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