domingo, 17 de abril de 2011

"O Encouraçado Potemkin", por Heitor Assunção Dutra


Passados noventa e poucos anos da sua estréia em 1925, O Encouraçado Potemkin me deixou de boca aberta com seus cortes, e estou certo que continuará deixando os estudantes de cinema, cinéfilos e entusiastas ainda por muito tempo boquiabertos.Trata-se da comprovação do que tanto se repete: A montagem do filme é com os Soviéticos.No caso um dos maiores diretores soviéticos: Sergei Einseinstein, com certeza o mais conhecido cineasta russo junto com Tarkovsky. Kubrick concorda, que o que torna cinema, cinema é a montagem, não é fotografia, nem música, nem literatura, é tudo isso mais o elemento único da sétima arte: a montagem; é cinema.O ritmo nesse filme é de uma força e velocidade alucinantes, é um filme que realmente é da sua época, da efervecência dos primeiros anos da União Soviética, passados nem dez anos desde a revolução de 1917. Esse filme reafirma a idéia de união do povo, que num episódio anterior a revolução, numa Rússia quase feudal, enfrentou a opressão do Czar.

O povo é que manda, isso é o que deve ser. Mas nunca foi, sempre algum espertinho se apropriou do poder de maneira total. A revolução não trouxe a diferença, colocando no lugar do Czar Nicolau II, ditadores no mesmo patamar ou piores que o antigo rei que como se provará no final da década de oitenta não conseguem segurar o tranco de um país tão grande. No filme dá até vontade de se unir ao povo indignado, o espectador está ali dentro, também indignado, não há filme 3D que faça mergulhar mais que uma história bem contada.

Ao entrar de barco na baía de Odessa com corpo do marinheiro morto,os marinheiros presenciam os navios parados no porto que parecem indiferentes, a cidade parece não pertencer aos seus habitantes na prática.Ao chegar ao cais, a notícia de um irmão russo, trabalhador, massacrado, morto se espalha por Odessa trazendo todo o povo, os seus irmãos, que enfrentam situações similares, sentem a dor do marinheiro de nome impronunciável.Choram sua morte e vibram com a revolução, um ensaio revolucionário.Nas escadarias da cidade a tirania dos partidarios do Czarismo atinge seu ápice, uma avalanche de cadáveres se espalha pela escada, pisoteamentos, gritos, numa cena frenética e alucinante de sofrimento e agonia.A mãe que desesperada pede ao Kossacos piedade é tocante, e imagino que na época que o filme foi exibido contou com a emoção da platéia, que chorou cada momento de dor, das mães e filhos mortos pela imbecilidade de um regime estúpido. Com planos de em média três segundos de duração cada, a sequência das escadarias fica guardada na história do cinema.

Não há muito o que dizer, é pra se ver. É difícil pra mim imaginar um filme com tanta força, com seus closes, com os regentes da orquestra do povo, a forte imagem da velha igreja representada pelo padre, o filme é uma ópera muda.Aplausos.

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