sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Nana", por Carolina Villa Costa


O filme “Nana” de Jean Renoir data de 1926, e foi o seu segundo longa-metragem. Foi inspirado em um romance do escritor francês Émile Zola. Sua produção foi considerada uma das mais caras da França para a época. Contudo, não ouve retorno financeiro, pois o filme não agradou tanto aos espectadores quanto aos críticos, que o considerou uma obra-prima.

A história se passa em 1869 e fala sobre uma atriz, sem talento, da margem social parisiense que busca subir na vida, e para isso procura se envolver com homens ricos. Nana (Catherine Hessling) se envolve com o Conde Muffat (Werner Krauss) acreditando assim que chegará ao patamar social que deseja. Ela se torna uma cortesã, envolvendo-se com outro conde, Vandeuvres (Jean Angelo), e também com o sobrinho deste, Georges Hugon (Raymond Guérin-Catelain). Prejudicando e manipulando a vida de todos os três, e tirando deles o máximo proveito. Entretanto, ocorre uma inversão, e quem muda de classe social é o Conde Muffat, aquele a qual ela foi mais “fiel”.

A personagem de Catherine Hessling parece, em seus movimentos e expressões, com uma adolescente, ou até mesmo uma criança. Isso soa como uma dissimulação da personagem para conquistar admiradores. Ela se apresenta com movimentos sutis e graciosos, chegando até parecerem ingênuos e infantis. Essa característica é acentuada pela sua maquiagem, que realça os lábios e os olhos da atriz. Acredito que com esse teor de “ninfeta” Nana lembra outra personagem de outro romance, Lolita de Vladimir Nabokov. Ambas com um poder ingênuo de atração. Ao longo da trama Nana se mostra extremamente arrogante, dissimulada e interesseira.

As expressões faciais dos atores são bem fortes e realçadas pela maquiagem, porém não são tão exacerbadas como nos filmes do Expressionismo Alemão, mas ainda sim apresentam certo exagero. O verdadeiro exagero do filme talvez esteja nos figurinos, em especial os femininos, que apresentam vestidos com longas caudas, e detalhes peculiares como estampas e brilhos. Esse detalhe de vestuário se destaca bastante na personagem principal Nana, fato que pode ser interpretado como uma apologia a sua aspiração social. É possível notar a mudança de suas vestes quando ela se torna cortesã, antes quando era apenas uma pobre atriz tinha o sapato com o salto quebrado (momento frisado por Renoir), depois ela aparece com sapatos novos. Com relação aos homens, temos a forte presença do xadrez.

Um fato curioso do filme é a relação de cumplicidade que é estabelecida entre um dos personagens, o Conde Vandeuvres, e o próprio espectador. Há momentos em que este personagem interage diretamente com a câmera, através de olhares e gestos, sempre em situações em que ele se encontra como mero observador, assim como nós espectadores. Como se estivesse assistindo a cena conosco. Porém isso é perdido depois que Vandeuvres se apaixona por Nana.

O longa apresenta as temáticas de traição, ganância e sensualidade de uma forma um pouco mais descontraída. Apesar do drama vivido pelos personagens encontramos uma leve comicidade na forma como ela é transmitida. Podendo ocorrer que tal comicidade não fora proposital.

Encontramos personagens subjetivos, mas que tinham forte conotação para a trama como os amigos do grupo de teatro de Nana, que representavam a boemia parisiense; o diretor do teatro, Bordenave (Pierre Lestringuez) que vivia incitando a ganância de Nana; e a Condessa Sabine Muffat (Jacqueline Forzane), que cansada dos escândalos do marido, e de seu descaso para com ela, resolve fugir com seu mordomo, Fauchery (Claude Autant-Lara), acrescentando um teor feminista.

Jean Renoir mostra um talento o qual não esperaria de alguém em seu segundo longa. “Nana” peca em alguns aspectos, como nos planos que se assemelham a um palco de teatro, mas se sobressai em outros, como a forma como se trabalha a profundidade dos planos.

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