domingo, 7 de junho de 2009

“Levada da Breca - Desventuras sequenciadas" por Yanna Luz


De Howard Hawks, “Bringing up Baby” ou “A levada da Breca”, seu título em português, é uma comédia com aparência despretensiosa feita sob medida para vestir o manequim da Screwball Comedy (em seu modelo mais tradicional). Porém torna-se, a partir de certo momento desagradável observar tal vitrine: trata-se notadamente do tamanho correto de uma roupa desconfortável e (não há tantos pudores para não dizer que não) até ridícula.

Tecida a partir dos nós criados pelos personagens, a estória conta a saga de David Huxley, um paleontólogo prestes a casar, que ao participar de uma partida de golfe –na tentativa de ganhar uma grande quantia em dinheiro para seu museu- depara-se com uma mulher descontrolada, Susan Vance, a qual, para conquistá-lo, os envolve em grandes confusões. Num desses momentos, tentam resgatar Baby, um filhote de leopardo vindo do Brasil, problemática da qual despontam outros pequenos desastres, que nos arrastam a um desfecho, infelizmente, previsível.

O ritmo do filme, que determina o compasso das ações diante de tais infortúnios, é digno de uma gincana frenética, na qual os personagens parecem obrigados a executar (num espaço de tempo suficiente para apenas uma) pelo menos dez ações. Não surpreende, portanto, que atitudes tão apressadas façam com que esses pareçam sempre tão míopes quanto toupeiras.

Exagero nenhum: é impressionante como David e Susan, (ele dono de confusão ingente, ela de uma impulsividade vulcânica) parecem não fazer uso de nada que possa ser útil para orientá-los. Há em ambos pouca noção de espaço, equilíbrio. São imaturos, desastrados, ansiosos. Capazes de tropeçar diversas vezes nos próprios pés e, - pasmem!- compor um filme inteiro baseado em suas atitudes impensadas, senão imbecis.

Há algumas cenas, no entanto, em que, devido às boas atuações, ainda é possível projetar algumas risadas (o que nos dá certa esperança, afinal, trata-se de uma comédia...). Um desses lapsos de descontração surge, por exemplo, quando Huxley, apresentado nesse momento como Sr. Osso, dando um salto brusco “estilo rã”, grita ter virado gay de repente, como justificativa plausível para estar vestindo um roupão com “frufrus”. Porém tão de repente ele diz ter virado gay, mais de repente a graça desbota, pois logo volta a antiga insistência em não sair da estaca zero quando o assunto é retirar-se com destreza das situações de dificuldade.

Portanto, haja paciência: tais características transformam ‘A levada...’ num exemplar de comédia das mais burocráticas (até no Cinema?!, você pensa). Justifica-se: com tanta eficiência para resolver situações, os personagens nos conduzem de um problema para o segundo, sem terem resolvido o primeiro. E assim somos encaminhados por várias etapas até que estejamos sufocados, envolvidos em uma substância na qual não conseguimos dissolver nossa dificuldade inicial (e nem as seguintes).

O filme, conclui-se, em poucos instantes tranforma-se de comédia para unidade ridícula de sobrecarga de artifícios humorísticos (que só são engraçados, e Hawks fingiu não saber disso, quando usados na medida exata). O riso precisa estar frouxo e o humor pouco ajustado para que tenham um bom caimento ao assistir um filme como esse, que, por fim, não se faz de todo não recomendável: apesar de possivelmente não agradar àqueles que preferem algo menos saturado, ainda pode cair como luva aos que possuem tendências sadomazoquistas. Mas aos fãs ortodoxos das videocassetadas aos domingos – a esses, garanto, o filme se fará extremamente apreciável.

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