terça-feira, 9 de junho de 2009

“Pacto de Sangue” por Paulo de Sá



O termo Cinema Noir surgiu na década de 1940, após a Segunda Guerra Mundial, sendo atribuído a filmes policiais, retratados em ambientes marginalizados ou típicos subúrbios. A violência, corrupção e desonestidade dominam a cena, se destacam em relação a vários outros aspectos fílmicos. Nos filmes correspondentes a tal gênero, existem outras características marcantes: a trama policial, sendo sempre narrada em ritmo de suspense, investigativo, misterioso; a presença de um personagem representando a femme fatale, ou seja, a mulher provocante, charmosa e sedutora que conquista todos os homens nos quais se insere o “mocinho”, que mais faz papel de um anti-herói que de mocinho; a história “ilegal” na qual a trama é desenvolvida, bombardeando o espectador com corrupção e desonestidade; personagens certamente ambíguos, ora atuando em prol do bem, ora atuando do lado mal e desonesto da história.

Em Pacto de Sangue, filme de Billy Wilder, a narrativa gira em torno de um agente de seguros, Walter Neff, personagem de Fred MacMurray, que é seduzido pela mulher de um dos seus clientes, Phyllis Dietrickson, representada por Bárbara Stanwyck. A figura da femme fatale se encontra encaixada perfeitamente em Phyllis, a qual usando de toda sua beleza e astúcia induz Neff e faz com que ele a ajude no assassinato de seu marido, cliente do próprio Neff. O crime deve ser feito com extrema cautela para que pareça um acidente e, consequentemente, nem a polícia nem a empresa de seguros desconfie de um assassinato. Como todo trágico andamento de um filme noir o anti-herói, mostrado na figura do mocinho corrompido, e a femme fatale acabam encontrando vários problemas para esconder o crime, o qual é descoberto no final da trama pelo chefe de Neff.

Diante de um grande clássico do Cinema Noir é preciso citar alguns aspectos particulares de Pacto de Sangue. É perceptível, por exemplo, a imponência de Neff no começo do filme: para começar ele o personagem mais alto da história, já propondo uma idéia de superioridade em relação aos outros homens; é também encantador, charmoso e bem sucedido no trabalho; começa, então, a seduzir a mulher de seu cliente (na verdade acha que está seduzindo, porém isso apenas é revelado no final da trama). Após tomar conhecimento da proposta de Phyllis, Neff acaba se transformando na figura paternal e o principal articulador do plano, sendo ele quem programa o assassinato nos mínimos detalhes, tenta ao máximo acalmar Phyllis, dirige e conduz todos os passos desta última. Quando o assassinato se torna alvo de suspeita por parte da empresa de seguros, porém, a figura da femme fatale, retratada em Phyllis, acaba tomando uma posição superior a de Neff, saindo da posição de mocinha indefesa e começando a disputar com Neff a saída desta tão grave suspeita. Este último, por sua vez, a partir desse momento da narrativa, começa a fraquejar, se torna uma pessoa nervosa, com sentimento de culpa, medrosa, sempre achando que algo vai acontecer, o que faz com que ele saia da posição de imponência que antes se encontrava.

A iluminação e a saturação ajudam a criar o clima que o Cinema Noir propõe: cheio de mistério e suspense. O contraste visual (entre a cor preta e a cor branca) é intenso durante todo o filme, diminuindo um pouco apenas nas cenas menos macabras ou perversas, como, por exemplo, quando Lola, enteada de Phyllis, está em cena. Lola é o personagem que representa a ingenuidade, honestidade e a esperança de um desfecho feliz para a história, sendo, porém, mostrada de forma incrivelmente impotente diante de todas aquelas articulações corruptas e ilegais. A presença de fumaça no ar, originada de cigarros e charutos, passa a idéia de um ambiente poluído, tóxico, fazendo com que o espectador tenha a sensação de sufoco, algo insuportável para qualquer pessoa.

Também é válido salientar a presença da fotografia dando mais sentido ao filme e ajudando no andamento da narrativa. Para citar um ótimo exemplo há a primeira seqüência dentro da casa de Phyllis, quando Neff vai visitar seu cliente e acaba, ocasionalmente, conversando com a mulher do mesmo (a qual começa a pôr em prática seu grande plano): Bárbara Stanwyck, no seu personagem de Phyllis, do alto de uma escada é filmada do chão, ou seja, de baixo para cima, enquanto Fred MacMurray, como Neff, está no chão e é filmado de cima para baixo, revelando quem realmente está seduzindo quem, ou seja, quem realmente está no comando da situação.

São várias as características particulares e excelentes existentes em Pacto de Sangue, fazendo com que esse clássico e seus realizadores se tornassem grandes contribuintes para o desenvolvimento do Cinema Noir e, de forma geral, do cinema mundial.

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