terça-feira, 9 de junho de 2009

"O gabinete do Dr. Caligari" por Paula Riff


O Gabinete do Dr Caligari(1920) inovou ao relacionar-se com uma escola que já despontava em outros âmbitos artísticos, qual seja o expressionismo.

Entender as características dessa escola e o contexto histórico em que surgiu é bastante importante para entender a influência que esse movimento artístico exerceu sobre “Caligari”, e a partir do sucesso deste, em vários outros filmes.

A origem das características do expressionismo, ao contrário do que muitos pensam, não surgiu através da arte alemã, porém, foi nessa nação que encontrou maior importância, devido à atmosfera de desilusão e pessimismo que rondava o país pós-guerra.

A primeira arte a demonstrar características do expressionismo foi a pintura, com formas distorcidas e cores sombrias tendo como obra mais famosa “O Grito” do norueguês Edvard Munch exposto pela primeira vez em 1893.

O movimento expressionista propunha exteriorizar o olhar subjetivo do homem, traduzindo visualmente os conflitos emocionais. O objetivo era revolucionar o modo de mostrar a arte. Revolucionou, sem dúvidas, a forma do cinema.

O cinema alemão adquiriu e adaptou as características do movimento expressionista o que resultou em sua obra prima: O GABINETE DO DOUTOR CALIGARI.

Tal como a escola expressionista, o filme não aborda os temas sob a ótica de uma realidade concreta, percebe-se isso através da deformidade dos cenários, no contraste de luzes e sombras e da maquiagem dos personagens.

O cenário se destaca no filme não apenas por sua originalidade, mas também porque faz parte da própria narrativa do filme.

Ao “descobrirmos” que toda a história contada no filme não passava de um devaneio do protagonista, poderíamos presumir que o cenário faria parte da visão sentimental do narrador diegético, como, aliás, propõe o movimento expressionista. Porém, mesmo ao final da narrativa, na última sequência do filme em que há a apresentação do local em que o protagonista se encontrava contando a história, ainda observamos as mesmas características dos cenários anteriores. Loucura ou Realidade? Estaria o protagonista narrando um delírio num sanatório ou o perverso Dr. Caligari conseguiu enganar a todos mais uma vez? Pois se fosse mesmo uma ilusão, porque o cenário não ficou mais real após o término da narrativa? Ou será que o cenário foi utilizado apenas como um efeito estético e o protagonista realmente é louco?

Após mudar de opinião diversas vezes a medida que revia o filme, acredito que o cenário é mais do que mero instrumento decorativo, até por que, se não fosse por esse elemento, esses questionamentos não existiriam. Sendo assim, o cenário, executa perfeitamente o seu propósito, pois além de passar ao espectador toda uma sensação de aflição e desconforto, contribui como elemento fundamental para confirmar a ambigüidade do desfecho narrativo do filme.

O misterioso e o perverso foram temáticas bastante abordadas no cinema expressionista alemão, e tal interesse perdura, até hoje, nos filmes de terror e suspense que não coincidentemente utilizam outros aspectos parecidos do cinema expressionista como a utilização de luzes e sombras para dar a mesma aparência ameaçadora.

Há também diretores atuais que utilizam além desses aspectos supracitados outros recursos mais evidentes como a maquiagem e o cenário, assim como é o caso do diretor hollywoodiano Tim Burton. Tais aspectos não são utilizados com mesma finalidade anteriormente empregada no cinema expressionista, no caso do diretor Tim Burton, são utilizadas apenas com um intuito estético, ainda assim esse uso não deixa de ser uma clara referência ao cinema expressionista.

Tais constatações são importantes, pois confirmam a importância do filme O Gabinete do Dr Caligari e do cinema expressionista alemão que, mesmo após seu declínio em 1924, deixou as suas marcas na história do cinema e continua a influenciar a maneira de fazer o cinema até os dias de hoje.

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